«A mim não me enganam», jura-nos, num café, certa mulher de alguma idade, os óculos refulgindo lúcida e severamente. Não fala com ninguém em particular, pelo que, queira eu ou não, tenho de me considerar, como os demais, um interlocutor em potência. Faço o meu sorriso estúpido destas ocasiões e vou assentindo com a cabeça.
«O Queirós», prossegue ela, «tem qualquer coisa contra Portugal. Aquilo é vingança antiga. Ou então estão a pagar-lhe. Ou as duas coisas, estão a pagar-lhe, e bem!, porque ele estava de candeias às avessas com o país; pagaram-lhe para ele conseguir que a selecção não fosse longe. Não viram os disparates todos que o homem fez? Mandou embora o Deco, pôs o Ronaldo a jogar sempre fora do lugar, quase não metia o levezinho do Sporting, trocou o Hugo Almeida quando ele estava no melhor...»
Pondero, com uma súbita atenção nos ouvidos. E ela, deduzindo com rigor toda a trama da maquiavélica traição de Queirós:
«E eles sabem isso tudo, eles lá sabem uns dos outros, não se lembram de que o Mourinho veio dizer que a selecção não ganhava nem com o Ronaldo a correr a mil a hora? Ora aí está. O Mourinho sabe o que diz, por alguma razão o disse, ele lá sabia qualquer coisa...»
Não deixa de ser uma explicação. E, pensando bem, é talvez mais lógica do que a ideia de que alguém possa, sem qualquer razão, por si só, ser tão mau, tão mau, tão mau como o Queirós foi. Enfim, alguém que ganhe algo com esta derrota!
Eu ando adormecido. Felizmente que, às vezes, aparece um português lúcido para me abrir os olhinhos.
sexta-feira, julho 02, 2010
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