domingo, julho 18, 2010

UM DEFEITO DO VIZINHO PERFEITO

Há pessoas, não sei, que parece que, para melhor exibir a luz das suas qualidades, têm de diminuir os outros.

Assim sucede com o meu vizinho M., à parte isso, de facto, muito boa pessoa e homem prestativo.

Porém, quando o apresento a alguém - à minha tia, a algum amigo, a certa visita -, se tenho necessidade de lembrar que é uma «espécie de Salvador da Pátria», e recordar como «foi ele que subiu, por uma escada de madeira, ao primeiro andar, para arrancar à casa de banho a minha filha, que se tinha fechado por dentro à chave», etc, etc, etc, raramente não recebo por resposta qualquer coisa a sublinhar um defeito, uma incompetência, um falhanço meus.

No outro dia, apresentava-o à minha mãe, com o sorriso e as fórmulas do costume, Salvador da Pátria, Um vizinho cheio de recursos, etc, etc, etc - e responde-me ele, mirando com desconfiança os pneus do meu automovelzeco:

«Está com os pneus muito em baixo, vizinho. Tem de ver isso, o vizinho não se preocupa com o carro!? Olhe que eu, o meu...!»

Mas a melhor foi de uma vez em que o apresentava já me nem lembro a quem. Blá, blá, blá, Sempre que estou em apuros, aqui o vizinho, e blá, blá, blá.
E ele, estudando-me fixamente o rosto:

«Ó vizinho. O vizinho não sabe fazer a barba!»

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