sexta-feira, fevereiro 29, 2008

2057 (II)

Lap fez um sinal ao barman, que acorreu com um «Blootea».
- Não! - exigiu a rapariga. - Quero um dos azuis...
Fez-se um silêncio. Havia «Blootea» azul, é claro, muito raro, muitíssimo mais caro, levemente ácido, e de que só começávamos a gostar ao fim de algum tempo, razão pela qual nunca se bebia rapidamente nem fazia sentido bebê-lo em locais públicos.
- Um azul?! - perguntou o barman, pensando na estranheza de uma cliente que não arredava pé de um banquinho-ao-balcão e se preparava para, aí, gozar uma bebida demorada, enquanto potenciais clientes se acotovelavam à espera de um lugar vago.
- Azul?! - inquiriu por sua vez Lap, pensando, avaramente, na quantia que teria de desembolsar para ser agradável a uma focinho-de-gato. (Logo num dia em que, esquecido a mirar o peito da sacerdotiza, no templo, ficara com o cartão magnético sobre o aparelho das esmolas durante mais um décimo de segundo do que aquilo que planeara...)
- E por que não? -, desafiava a Oorkiana. - Não posso beber o que quero?
- Vocês não saem? Não? Não se vão embora...?- era a vez de mostrar a sua impaciência um puro e autêntico venusiano malhado, que se entretinha a brincar com o sabre.
A mulher estava num crescendo de fúria:
- E porquê? Já és o quinto que me apressa. Com que então não posso beber o que quero? E não posso demorar o tempo que me apetece? Não tenho escolha? E tu, eh, ó barman pateta, não estás cansado de me vigiar? Vai queixar-te a Lordingham, vai...
Houve uma movimentação estranha em redor deles. «Estranho, estranho», pensou Lap. «Na verdade, hoje, tudo é um pouco estranho! Deve ser por culpa da focinho-de-gato...»; havia como que uma agitação, ou um início de agitação, que tinha origem num rumor vago e surdo, o qual se transformou na voz rouca de alguém gritando: «Ponham-na fora!», tudo pontuado pelo dramatismo do venusiano a brincar com o sabre, de uma forma, talvez, ameaçadora...

Quando deu por si, Lap, que era avesso a tumultos, já pegara na rapariga pelo braço e saía com ela sobre um tapete rolante que lançava as pessoas em direcção à rua.
A rapariga protestava. Caía nas suas pernas.
- O meu «Blootea»!? Quero um «Blootea» azul. Não me digas que não és capaz de pagar um «Blootea» azul a uma rapariga que só quer fazer o que lhe apetece.
- Não sejas parva. Nós fazemos todos o que nos apetece. Anda, que pode ser que lhes apeteça a eles dar cabo de ti!
(E, ao que parece, continua a continuar).

1 comentário:

zorbas disse...

Grande confusão, meu! Fizeste bem em te pirares daí, mas vê lá se alargas os "cordões à bolsa" (desculpa o arcaísmo) e ofereces om Blootea azul à rapariga.