quarta-feira, fevereiro 06, 2008

A SEITA - VIII

CAPÍTULO TRINTITRÊS.

Temos de terminar, não é verdade?
Bota não pode levar o sonorfume por uma trela dali para fora.
Pior do que tudo isso: Bota não tem a mínima vontade de sair, embora Mamã o empurre com maus modos. Bota defende-se. Ir para onde, se aquilo, no exterior, se está transformando numa algazarra divina, os deuses todos espadeirando para a esquerda e para a direita?
Bota tem a espada de fogo de Gabriel na sua mão.
Brande-a, ameaçadoramente, contra Mamã.
Ai, o que foste fazer. Mamã espeta-lhe uma palmada em pleno rosto que atira com o bêbedo para longe dali. Não se metam com Mamã...

CAPÍTULO TRINTIQUATRO.

Bota levanta-se, esfregando o corpo dorido. Perdeu a espada.
Alguém o espera com certa tranquilidade, fumando um cigarro.
Mefistófeles, claro.
(Nos tempos que correm, só Mefistófeles se atreveria a acender um cigarro...!)
- O senhor aqui?! - geme Vicentino Bota.
Mefisto fala-lhe pausadamente.
- Acompanha-me. Assegura-te que o sonorfume te acompanha. Ele parece gostar da tua companhia...
- Mas para onde, ó Senhor das Trevas, ó...?
- Deixa-te de tretas. Vem.

CAPÍTULO TRINTICINCO.

Dirigem-se, subterraneamente, até um rio prateado, onde uma barca os aguarda.
O barqueiro, de rosto vagamente sombrio sob um capuz, melancólico e silencioso, ajuda Bota a subir e, de seguida, atravessam o manso rio.
À medida que avançam, as águas vão-se tornando mais tormentosas, avermelhadas, assustadoras.

CAPÍTULO TRINTISSEIS.

Desembocam numa espécie de gruta. O calor é elevado. Almas penadas arrastam-se.
- É o Hades? - pergunta Bota, querendo testar os seus conhecimentos.
- Ou o inferno. Ou o que quiseres. Em suma: um local de eterno descanso...!

CAPÍTULO TRINTISSETE.

Em todo o mundo, o clamor eleva-se. Em toda a parte, os deuses se entrechocam, se digladiam, se batem. Por todo o lado, os homens são chamados a intervir, convencidos de estarem guerreando em prol dos seus interesses quando, por detrás deles, os dois exércitos de deuses em fúria os manipulam.
O Apocalipse começou.
Mesmo no Hades, silencioso e triste, chegam a Bota e a Mefistófeles, que fuma, sem cessar, cigarro após cigarro, fazendo daquele espaço o inferno, sobretudo, dos não-fumadores, chegam o troar e o clangor da guerra.
- Tu não vais participar? -, pergunta-lhe Bota.
- Ah, não, eu não me meto nisso.
- Falhei na minha missão?
- Não inteiramente. Trouxeste o sonorfume.
- Mas... para que vos serve o sonorfume? A vulcanyte desapareceu...
- Bem... a vulcanyte era algo de decisivo para mudar o rumo da batalha. O exército que estivesse na sua posse teria uma oportunidade. Paciência! Não percebes que talvez tenhamos outro trunfo?
- Qual?
- O sonorfume. Ou seja: Jesus! Ou seja: o filho de Deus-Pai, sem o qual Deus-Pai - a acreditar nos cristãos - não está completo...
- Ou seja...?
- Ou seja: temos um refém precioso. Agora descansa. Dorme um pouco. Não te preocupes mais. Adormeces...
- ... E de manhã acordo na minha cama, sem me lembrar de nada...?
- Se tiveres sorte. Se houver amanhã. Tudo dependerá da Grande Guerra lá fora! Dorme.

FIM

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