Calculo que o problema resida em mim.
Desabituei-me de tal modo de ir ao cinema que, nas raras oportunidades em que me predisponho a fazê-lo por minha iniciativa, quer dizer, sem ser para acompanhar o meu filho adolescente e amigos a uma teen-pepineira, é certamente porque, entretanto, se aclama e premeia um filme em especial, ou porque uma pessoa, cuja opinião respeito, mo aconselha vivamente: deixo-me influenciar, deixo-me ofuscar, deixo que me alimentem as expectativas, me lancem atrás desse filme como um junkie em busca do «produto»; e, quase sempre, sucede que saio a encolher os ombros, desapontado de que tenha havido tanto alarido em torno de algo que me pareceu de uma melancólica banalidade...
Ponho de parte a hipótese (por pouco convincente) de eu estar vendo mais longe ou estar mostrando mais exigência do que os outros, nomeadamente os críticos consagrados. Sei que não é isso. Não pode ser. Talvez me escapem, isso sim, os pormenores que lhes fazem as delícias, que lhes motivam as análises exaustivas, que lhes provocam os verdadeiros orgasmos intelectuais, que suscitam os prémios, os óscares...
Os óscares, sim. Falemos, pois, da película que acabou sendo considerada a grande vencedora da noite oscarina: «Esta Terra Não é para Velhos», dos irmãos Coen, recorrentemente (e, na minha perspectiva, precipitadamente) apodados de génios.
Mas falemos,sobretudo, do óscar para o melhor actor secundário, o tão badalado Javier Bardem, elevado, por estes dias, ao estatuto de alguém que encarnou «brilhantemente» um «serial killer»: fascinante, frio, metódico, coerente, agindo à luz dos seus princípios, isto é, matando e fazendo o mal de acordo com uma moral inflexível, de acordo, poderíamos dizer, com uma visão, uma filosofia...
Houve tal unanimidade em redor do talento dos irmãos Coen, ou da perfeição de Tommy Lee Jones, ou do brilhantismo de Javier Bardem, que, tendo imediatamente ido ver o filme, lamento quase ter de vos confessar que não encontrei vestígios disso.
Bardem, principalmente - caiam-me em cima, raios vingadores - não me pareceu nem mais nem menos, na sua representação, do que aquilo a que o meu saudoso avô chamaria um canastrão: só ali consegui ver uma figura muito alta, muito rígida, com um penteado ridículo, uma excelente voz, é verdade, mas um pau-pérrimo trabalho de actor. (E vêm agora uns quantos eruditos dizer «tatatá» e mais isto e mais aquilo e relembrar não sei quê do «método», o de Stanislavski? E que «tatatá» e que frito e assado mais o regresso do modelo do «Actor's Studio»? Tudo, reparem, a propósito da representação do senhor Bardem???? Hum! Estão a brincar, pois estão?)
Mas hei-de estar enganado. Com certeza. Faltou-me foi perceber bem uma qualquer cena em que o Bardem usava uma entoação ambígua/intensa/trágica/implacável (riscar o que não interessa); ou, então, a mestria com que ele levanta os pés para não sujar as botas no sangue de uma vítima. Vão ver que é isso. Faltou-me deslindar algum pormenor.
Oiço-vos falar do Bardem, vejo o filme, vejo o Bardem e penso: Nááá! Não estamos a falar do mesmo...!
(O que me faz reflectir: será, angel, que uma vez mais me enganei e julguei que o Stallone, noutro filme qualquer, é que era o Bardem? Seria isso???)
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