segunda-feira, dezembro 20, 2010

COGNOME

Sempre se achou e se disse, na família e na escola, que ele tinha uma grande capacidade. Não se percebe onde lhe pressentiam a «capacidade»: talvez no olhar brilhante a atento, ou numa certa inclinação da cabeça, quando escutava as pessoas; talvez porque fosse fácil amá-lo e o amor é um excelente revelador das capacidades do ser amado. Talvez por causa de algumas frases - tinha frases memoráveis - ou por causa de algumas perguntas - tinha perguntas talentosas. De modo que nunca se discutiu o seu «potencial».

E, contudo, o tempo passava e não havia quaisquer concretizações. Na escola, as classificações eram débeis. O discurso dos professores variava pouco: «Não aproveita as suas capacidades». Suspeito que ele próprio não saberia o que fazer para aproveitá-las. Lá estavam elas, adormecidas, ternas, capazes, como capacidades que eram, mas inconsequentes. Na família também foi não fazendo o que se esperava. Não escreveu, não construiu, não engenhou. Não produziu artigos, nem livros, nem filhos, nem pontes, nem pentes, nem guarda-chuvas, nem plantas, nem filmes, nem ossos, nem danças, nem pinturas, nem bâtons, nem baterias, nem sofás. Nem chuva, nem sol. Era de uma genial, tranquila e ineficiente capacidade.

Hoje, com oitenta e sete anos - fará amanhã, dia 21 de Dezembro, oitenta e oito -, chamam-lhe: «A Promessa».

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