segunda-feira, dezembro 27, 2010

UM CONTO DIDÁCTICO DE NATAL

kiko, o coelhinho, viu um dia, num centro comercial, um pai natal que prometia prendas aos meninos. o pequeno entusiasmou-se com aquela pujante barba branca e com os óculos de aros filiformes, dourados. o homem era bem gordo, sinal de que se alimentava bem. e ria muito, o que indica que a vida não lhe corria mal. em tempos de crise, aquela conjugação de sinais parecia-lhe convidativa.

nessa mesma noite abordou com a mãe o assunto. kiko queria ser pai natal. a mãe coelha principiou por sorrir, mas acabou chorando, ao perceber que o menino coelho estava decidido e não via mais nada à frente. «ó kiko, bigode lindo da mamã, o fofo não pode ser pai natal. o pai natal é um ser humano, kiko. oiça, querido, o fofo pode ser tanta coisa, olhe, engenheiro de tocas, como o papá, ou mesmo coelho da páscoa; o coelho da páscoa é uma espécie de pai natal em coelho, fofo...»

mas kiko não queria ser nada mais que não um coelho bem nutrido, de barrete vermelho, barba algodoada, branquinha, óculos e botas pretas. e, percebendo que isso nunca sucederia, o coelhito entrou em greve. numa espécie de greve, digamos. não comia. chorava. chorou dias, depois semanas, meses, estações. quando chegou o natal seguinte, kiko chorava ainda.

então, apercebeu-se de que, a partir de um certo ponto da noite, não era o único a chorar. crianças de todo o mundo choravam com ele, num coro deveras irritante. cessou o seu berreiro. lambeu e engoliu as próprias lágrimas. saiu para o frio, enterrando-se na neve, perguntando «que se passa? que se passa?»

contaram-lhe que esse ano o pai natal não aparecera; não havia prendas para ninguém. por causa da crise?, perguntou-se. e foi andando, com as patinhas deixando marcas fundas na branca neve. andou sem rumo, errado ao ritmo das suas divagações, até que, um pouco mais adiante, encontrou um trenó voltado de cabeça para baixo, vazio. e umas renas estranhas. «estranhas» porque demasiado coradas e com soluços.

ouviu um gemido. atrás de um arbusto, kiko deparou com o próprio pai natal. estendido no chão, ambas as mãos sobre o ventre, como se tivesse apanhado um tiro. e gemendo, gemendo. que se passa?, perguntou de novo, que se passou?

as renas haviam festejado com excessiva euforia. um copo aqui, um copo ali, risos, mais umas taças e, por fim, bebendo directamente das garrafas - tinham-se embriagado. conclusão: vogando depois pelo espaço com a liberalidade típica dos bêbados, descontrolaram-se e chocaram contra uma árvore durante a aterragem. e ali estava o pai natal, incapaz de se levantar, carpindo as suas mágoas e a de todos os meninos que, esse ano, não teriam presentes.

kiko ofereceu-se imediatamente para ser pai. um papá natal já atrasado, mas ainda cheio de prendas. punha o gorro, uma barba postiça, como os pais natal dos centros comerciais, e ia pelas chaminés. assim foi, de facto. e devo dizer que esse foi o melhor de todos os natais. pelo menos para kiko.

já perceberam que esta pequena história encerra uma lição e uma mensagem natalícia, não é verdade, amiguinhos? sim: se conduzir não beba. (pois, como acrescenta a daisy: porque pode entornar!)

Sem comentários: