domingo, fevereiro 24, 2008

NÃO HÁ MONSTROS, FILHO! DORME, APRE!!!

André Sarmento da Silva Jesualdo Martins [nome fictício] tinha um filho de dezassete anos; pois este seu rebento, aos dezassete anos de idade, ou seja, quase a atingir a maioridade que o libertaria [a ele, André Sarmento da Silva Jesualdo Martins], continuava a ler livros do Harry Potter e, influenciado por estes, a acreditar na existência de monstros, de bruxas - e mesmo, suprema fantasia, na existência de uma bruxa à cabeça de todo um ministério da Educação!!!!

O pior é que, com dezassete anos cumpridos, quase à beira do dia da libertação [para o pai], o menino Agostinho Potter (como gostava que lhe chamassem) tinha medo, não, «medo» não!, tinha pavor de adormecer à noite, no quarto, mesmo com luz de presença, sem a companhia de um adulto.

O deitar do menino Agostinho Potter era um toemento. Para o pai e para o filho. Para o filho porque, mal o adulto se retirava, depois de um beijo no rosto barbado (sim, Agostinho tinha já um prenúncio de barba a encher-lhe o queixo), parecia-lhe que o quarto se enchia de vultos, risos estereofónicos, uivares, bater de asas, correntes de ar, sopros, roncos, empurrões. Para o adulto porque Agostinho chamava: -Pai!? - de cinco em cinco segundos, até adormecer de exaustão..! Ou seja: André Sarmento da Silva Jesualdo Martins já não podia com aquelas cenas. Enervava-se. Sentava-se sem nada que fazer, ou sem poder fazer nada, diante da cama do marmanjão, cantando-lhe cantilenas de ninar, ou nem isso, deixando-se simplesmente estar, até perceber que a respiração da criançona regularizava e, por fim, se transformava num pequeno ressonar.

Até à véspera de Agostinho Potter fazer dezoito anos.
Nessa noite, furioso, André Sarmento da Silva Jesualdo Martins decidiu que era tempo de uma mudança radical.
- Qual monstros, qual carapuça! - gritou. - Não há monstros. Dorme!!!
E retirou-se. Entreabriu a porta com a mão, os dedos do lado de fora, enquanto, do seu leito, o menino se lamuriava.
- Não há monstros, papá? Claro que há. Estão todos aí. Não vás, peço-te. Só mais um bocadinho.
A porta entreaberta. Os dedos a segurá-la, dobrados para fora. A sua voz, contudo, firme, tratando-o cerimoniosamente para que ele se apercebesse de que já não era nenhum bebé:
- Deixe-se de mariquices. Até amanhã. Durma! (Se houvesse monstros para lhe fazer mal, tinham de fazer fila atrás de mim, que estou farto de si e das suas manias...)

André Sarmento da Silva Jesualdo Martins saiu, furioso, batendo com os pés.
Sentia uma dor na mão. Fina, não muito forte. Olhou-a: a tempo de a ver sem dedos, coberta de sangue. Devorada sabe-se lá por que coisa!

8 comentários:

zorbas disse...

Num país muito distante vivia um Rei que tinha uma filha que era a inspiração da sua vida. Tendo ficado viúvo e porque era um homem prático (engenheiro de formação), depressa percebeu que a sua querida princesa, Educação, não podia ficar sem quem zelasse por ela numa idade tão difícil como é a meninice. Resolveu então casar com a Duquesa Lurrdes de Rodrrigues, que lhe assegurou que zelaria pela criança como se fosse do seu próprio sangue.
(Continua)

zorbas disse...

Sei o que estás a pensar: "e se criasses a teu próprio blog para contares as tuas histórias?!"

Gil Duarte disse...

Não senhor, querido Zorbas, falta-te o dom da telepatia. Não pensei tal coisa. Pelo contrário, estou ansioso pela continuação, e tenho muito gosto em albergá-la aqui. Se bem que eu gostasse muito que te atirasses à aventura de fazer um blogue! Era de gato, hein!?

lara_1012 disse...

...e todos os dias a Duquesa se olhava no espelho mágico e pronunciava as palavras: Espelho meu, há alguém que consiga economizar mais do que eu? O espelho calava-se e a Princesa Educação ia ficando cada vez mais mirrada e esfarrapada. O Rei era um grande totó, assim como grande parte dos seus súbditos. Fim.

zorbas disse...

Tenho andado com parasitas. E, às vezes, eu próprio me sinto um parasita...

zorbas disse...

Duquesa Lurrrdes de Rodrrrigues trouxe para este casamento, duas filhas de uma união anterior:Economia e Informática. Estas, desde cedo, conseguiram a confiança de El-Rei, e com ela prendas inultrapassáveis: para a mais velha, uma choruda semanada; para a mais nova, computadores e afins. Isto, mesmo à custa dos brinquedos e livros que Educação sempre tivera.

zorbas disse...

Educação começou a andar triste e cabisbaixa; já não tinha com quem brincar, nem tempo para brincar.
Começou a ouvir do seu próprio pai, El-Rei, comentários do género:"Por que não fazes como a Economia que é tão poupadinha, e insistes em ir ao cinema,teatro, espectáculos. Vê televisão que não custa nada. Já está paga!" Ou então, " Vai para o computador, liga-te à Net e terás toda a informação que quiseres. Pára de perguntar "porquê?"

zorbas disse...

Educação fazia beicinho e aí, seu pai pegava-lhe ao colo, beijava-a na testa e dizia-lhe baixinho ao ouvido: "Que hei-de fazer contigo, filha? Nunca estás satisfeita!..."