Ninguém pergunta: «Está tudo numa boa?»; perdão, minto: há um grupo de pessoas que usa esta expressão. Não são os jovens, são os cotas que anseiam, se não por parecer jovens, pelo menos por mostrar que os entendem muito bem e falam a mesma linguagem, numa espécie de piscadela-de-olho cúmplice. Qualquer jovem identifica imediatamente um, digamos assim, «utente desta expressão», como sendo um não-jovem armado ao pingarelho.
Há uma espécie de película permanente de equívoco nesta angústia «politicamente correcta» de nos entrosarmos, de também falarmos à maneira de.
De certo modo, eu próprio sou uma vítima dessa ansiedade. Enquanto homem que, durante anos, não percebia patavina de futebol, assumindo um irrelevante e inconvicto «sportinguismo», tinha, por vezes, entre machos lusos, necessidade de falar futebolês, dizer que a equipa estava pouco/muito «entrosada». Servia-me de guia o senhor A., contínuo na minha escola que, quando eu entrava, era o primeiro a fazer os comentários que, ao longo do dia, eu tratava de seguir religiosamente - aliás, com pouco sucesso porque a opinião do senhor A., como acabei por descobrir com o tempo, estava longe de constituir uma luz do Além. Era uma opinião do Além, sim, mas num sentido menos lisonjeiro!
Com o tempo, tornei-me um fervoroso adepto e um atento seguidor de alguns jogos. Devo essa reviravaolta, mais do que ao senhor A., à selecção - pense o que pensar do histerismo patrioteiro que a rodeia e, para ser franco, este não me desagrada muito porque há, em mim, um óbvio lado histérico - e, mais do que aos homens, a duas ou três amigas com quem aprendi a entusiasmar-me com um certo futebol.
Neste momento, tenho vindo a discutir com elas se a trapalhada de pés que o Quaresma utilizou no jogo contra a Suíça é, ou não é, a famosa «trivela». Uma das minhas amigas, que sim. Outra, que não. Já não tenho o senhor A. para me tirar dúvidas. Sorte minha. E assim me entroso no entusiasmo pelo euro. Está tudo numa boa!
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4 comentários:
A crueza já espreita, mas tenho a dizer que... é uma trivela sim senhores. Sim, sim e sim. Consultem o link que se segue:
http://www.youtube.com/watch?v=-hZlmR0g9wE
Se o link não aparecer inteiro no comentário, vão ao YouTube e façam a seguinte busca: Quaresma Euro 2008 RABONA. Pode não ser uma "good rabona", mas lá que é uma "rabona"... Ah, pois, parece que trivela em estrangeiro se diz RABONA. Heheheheh!!!
Então, diz-me lá uma coisa. Afinal o que é a trivela, ou a rabona? Aquilo que se vê é o Quaresma a chutar com um pé por detrás do calcanhar do outro. Mas é só isso? Bem. Tenho novidades: há quase três anos que eu uso esse «magnífico» movimento para fintar a minha filha na praia!!! E esta?
Isso é um pormenor. Fazer a trivela é chutar a bola com a parte de fora do pé, em vez de usar a de dentro, o que permite dar à bola um efeito diferente. O que um dos comentadores do post do YouTube dizia é que neste caso o Quaresma tinha usado a ponta do pé e não a parte de fora, portanto era uma má execução. Tu fintas a tua filha com que parte do pé? :)
Sem bola, é a minha filha que me finta constantemente: finta-me quando tenho de a pôr a dormir, a comer, a fazer xixi ou cocó, etc. etc. etc. Com a bola, desforro-me. Finto-a com a parte de dentro do pé, com a de fora, com a ponta dos dedos... quem sabe se não sou, afinal, um talento oculto para o futebol!? Quem sabe se não errei na profissão...?
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