Chamam-me caçador.
Saio à noite, solitário e melancólico. Melancólico porque sinto que a minha tarefa me torna injusto.
A arma que possuo é o tempo.
E o tempo não é meu amigo, é meu inimigo. Devo ser o único caçador que transporta uma arma que o próprio caçador não ama, mas teme; que o próprio caçador não consegue sentir, cúmplice, no seu braço - antes fria e rancorosa, como se a qualquer momento pudesse virar-se (e vira, por vezes), contra ele: como um instrumento que se não adapta inteiramente à sua mão, que nunca chega a ser uno com esta, que está sempre a mais, sempre inorgânico, sempre incómodo, e de que, no entanto, o caçador inteiramente depende.
Saio. Mato. Com o tempo que desprezo. Me despreza.
E regresso. Eu mesmo mais velho, depois de cada nova morte.
Não renasço em cada morte inflingida. Não me alimento das sucessivas mortes. Suicido-me sem conseguir morrer.
Em cada morte, morro um pouco, sem morrer de uma vez.
E regresso.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
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