Ia eu no meu veículo, durante uma noite gelada de Dezembro, sob uma chuva que os limpa para-brisas insistiam debalde em extrair do meu campo de visão, quando, por um breve lapso de tempo, me pareceu ver uma série de vultos, ao abrigo de uma paragem de autocarro, entretidos numa operação frenética e bizarra.
Como eu avançava devagar, muito devagar, à medida que o carro se aproximava pude reparar que eram dois indivíduos, talvez um homem e uma mulher, e que se debruçavam sobre o banco, como se o limpassem. Havia, aos pés deles, um outro vulto estendido, comprido.
Foi pouco tempo; o meu carro, vagaroso ou não, prosseguiu o seu caminho.
Aquilo soava estranho, no entanto; de uma inquietante estranheza: estranho porque a chuva era tão intensa, que o banco da paragem estava obviamente molhado. Por que limpariam eles um banco encharcado, sob uma chuva que continuava caindo torrencialmente? Parecia ridículo. Não fazia sentido.
Depois, pensei melhor: só se estivessem tentando eliminar algum vestígio que a chuva não varresse por completo. Sangue...? Manchas de sangue já seco, incrustadas no banco metálico, que nenhum temporal poderia apagar?
Talvez então - continuei pensando enquanto, ridiculamente, a música dos Abba roufinhava no meu rádio -, aquele volume comprido, a seus pés, fosse um corpo? Ou (demasiado cilíndrico para ser um corpo humano), se tratasse de um tapete enrolado, no interior do qual tivessem enfiado o corpo de que se queriam livrar?
terça-feira, dezembro 02, 2008
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