quinta-feira, dezembro 11, 2008

MUNDO DE AVENTURAS

A minha vida, como oiço às vezes à senhora dona sogra, dava um filme. Não será tão espectacular e glamourosa como pode parecer à primeira vista (por exemplo à Sara T., que pergunta: «Mas é mesmo assim...???»), mas mantém uma permanente agitação; se não, vejamos: é verdade que me esqueço frequentemente da chave de casa e tenho de saltar o gradeamento e, a seguir, enfiar-me por uma janela que, do lado de fora, não abre senão o suficiente para me entalar; mas encolho a barriga e estreito-me de forma a fazer passar o meu corpo elástico, aterrando, ao fim de quinze penosos e doridos minutos, sobre os copos de vidro de uma casa de banho. E tudo sem qualquer vaidade; não é por isso que digo, ao apresentar-me: «My name is Duarte, Gil Duarte»...

Também é verdade que, no outro dia, andei fugindo, pelos telhados, de uns ucranianos que queriam eliminar-me: mas não foi nenhuma aventura de maior - não se tratava de agentes da ministra, nem de uma organização criminosa como a ASAE. Eram simplesmente ladrões. E, aliás, exagero um pouco: no fundo, estes ladrões não passavam de um casal honesto, que procurava devolver-me a carteira que eu esquecera sobre o balcão de um café. Eu é que me assustei desnecessariamente. Já agora, para ser rigoroso-rigoroso-rigoroso, também não se pode dizer que tenha chegado a subir exactamente aos telhados. Limitei-me a trepar a um muro. Um muro baixo. (Algumas pessoas chamam-lhe «passeio». Mas o ponto é que, para fugir aos honestos facínoras, fui obrigado a andar sempre pelo passeio...)

Há, portanto, que não desmerecer desta vida aventurosa. Era-o mais, é claro, quando eu tinha um cão. Reparem: o Dunga chegou a morder-me; e, atenção, houve aquele dia em que eu próprio estive vai não vai para morder-lhe. Mas mesmo agora, que ele se foi, existe uma certa agitação na minha vida. Dava um filme.

Nós, os vagabundos dos limbos, sem amarras nem laços, nós, os eternos navegadores do infinito, judeus errantes, temos sempre novas e sumarentas aventuras.

Não é que eu, na minha qualidade de «vagabundo sem amarras nem laços», não tenha de facto amarras. Tenho-as. Mas sempre recusei a obtusa opressão dos laços. Isso nunca. Jurei que nunca usaria laços nem gravata!!!

2 comentários:

zorbas disse...

Fui roubado! Aposto que fui roubado!... Não me resta um pingo de imaginação...

Sara Rainbow Soul disse...

Só de imaginar...esse fantástico e delirante mundo de aventuras... makes me smile!
Queremos mais!