sexta-feira, dezembro 05, 2008

POR MIM, NÃO POSSO COM PESSOAS ENCANTADORAS!

Há pessoas assim: algo no seu olhar, no seu sorriso, no todo da sua disposição irradia uma luz permanente; é ao que se chama «encantamento». Elas são, inegavelmente, encantadoras.

Mas quando as conhecemos um poucochinho melhor que seja, percebemos que, precisamente porque se habituaram a encantar, porque se habituaram a que os outros reajam à sua simples presença tornando-se-lhes ilimitadamente prestáveis, porque se habituaram a que ninguém lhes resista - tendem a sentir como um privilégio que concedem aos demais, consentir que estes as sirvam.

E os outros babam-se quando os «encantadores» os usam.

Os encantadores são pessoas que perdem a noção e a medida do que pedem: tudo lhes parece natural. Que haja quem se esforce, quem os substitua, quem, em prejuízo próprio, faça por eles o que lhes competiria.

Não sentem o sacrifício dos outros. Consideram, tácitamente e com ligeireza, que, por elas, todo o sacrifício tem de ser tomado como uma espécie de prazer. Um sorriso pagará tudo. Como o sol que, por ser quem é, sem demasiado trabalho, ilumina o mundo.

Os não-encantadores, como a ministra da Educação e eu mesmo, têm alguma dor de cotovelo. A ministra, que exige arrogante e asperamente, sem olhar a meios, e se mostra perplexa com a saraivada de manifes, greves e ovos com os quais lhe respondem, e eu, que não tenho coragem de pedir, quer porque «pedir» me humilha, quer porque sinto que mereço pouco da vida - lá está o meu lado Kalimero - ficamos, no fundo, espantados por termos de trabalhar tanto (mesmo se trabalhando pessimamente, como no caso da Dona Lurdes Rodrigues) para conseguir o mínimo ou para desconseguir de todo o que ambicionávamos...

Os encantadores, por seu lado, fazem cursos sem precisar de trabalhar!

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