Eu não sou ninguém.
Nunca o fui:
Não acabei o 12º ano, não tirei a carta de condução senão à terceira tentativa e nunca consegui que nenhuma das raparigas que se encantavam dos meus olhos azuis e dos meus lábios sensuais - diziam elas - namorasse comigo durante mais do que quinze dias. O meu record foi uma gorda que chegou a ficar quinze dias e trinta e sete minutos.
Sei perfeitamente - e sei desde os nove anos - que o meu valor no mercado das relações amorosas é fraco.
Mas nunca andei tão triste e tão deprimido, com a auto-estima tão abanada como agora, depois da «cena». (Não sei muito bem o que seja a «auto-estima»; mas é o género de coisa que as pessoas dizem que anda por baixo, sobretudo quando vivem cenas como a «cena» que eu vivi...).
Sei que não tenho um emprego promissor - no fundo, sou simplesmente um moço de fretes -, mas também não esperava que me tratassem assim. Foi um novo record: o namoro mais rápido, se é que lhe posso chamar isso.
Passou-se tudo na noite de Fim de Ano, quando me encontrei, num elevador, com uma rapariga que se dirigia à festa onde eu, por coincidência, deveria entregar uma caixa de limas para que fizessem daquelas bebidas de que os brasileiros tanto gostam. Os brasileiros E a supracitada rapariga: haviam de ver o modo como os lábios se lhe reviraram num alegre sorriso assim que soube a que se destinava a caixa...
Eis senão quando, meus amigos, o elevador teve uma avaria. Nem para cima, nem para baixo.
Fui eu quem serenou a rapariga, que se queixava de ser clarinete, ou clarifone ou assim (como é que se diz quando uma pessoa não suporta espaços fechados?) e que, acrescentando que já se estava a sentir mal, me ia perguntando se haveria ali um pouco de cachaça e açúcar para juntar às limas e fazer uma receita caseira que ela conhecia. (Percebi depois que era especialista em receitas caseiras, umas com whisky, outras com gin...)
Tentando desesperadamente que ela acalmasse, nem sei como é que aquilo aconteceu, mas acabei por beijá-la. E, na verdade, comecei logo a ouvir disparar foguetes, estrelas e faíscas. Até pensei que fosse já a festejar a passagem de ano e olhei para o relógio: não era meia noite. Devia-se tudo ao extraordinário beijo de vinte e três minutos em que nos engalfinhámos...
Infelizmente, nesse momento, talvez devido a uma descarga do eléctrico beijo, o elevador reiniciou a sua marcha...
E quando as portas se abriram e eu me preparava para lhe propor casamento, a miuda desapareceu sem se voltar uma única vez para trás.
Isso não se faz. A mim, claro, não me aceitaram na festa. Aceitaram-me a caixa de limas, isso sim, mas mandaram-me embora com o coração destroçado.
Desde aí, procuro-a todos os dias. Enfio-me no mesmo elevador. Repito a viagem de baixo para cima, de cima para baixo. E nada. Sinto-me infeliz.
sábado, janeiro 10, 2009
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1 comentário:
HAHAHAHAHAHA!!! Brilhante! Coitado do rapaz... conheço uma história que tem semelhanças com esta, mas o rapaz tinha olhos castanhos e a rapariga não era clarifone. Não devem ser os mesmos ;)
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