terça-feira, janeiro 13, 2009

LÚCIA, A MULHER-DA-PORTAGEM

O meu nome é Lúcia.
Vivo a maior parte da minha vida naquelas barraquinhas das portagens, à espera de que os atrasados que ainda não aderiram à Via Verde (possivelmente, benfiquistas...) formem demoradas filas enquanto procuram trocos. (Por que não trarão já o dinheiro preparado?). Ou descobrem, bruscamente, que têm de pagar mais cinco cêntimos, que não trazem ali...

Há pessoas, portanto, que, de mim, não conhecem senão um braço que se lhes estende à passagem.
Não tenho grandes alegrias na vida.
A única coisa que me dá prazer é, pois, fixar alguns dos condutores.
Aguardo-os.
Ao antipático que não me dá os bons-dias, por exemplo, gosto de fazer esperar. Conto minuciosamente o troco.
Ao que vem a ouvir música muito alto, gosto de responder elevando ainda mais o volume do meu rádio. São as minhas pequenas vinganças.

Às vezes, é o próprio destino que se encarrega de me vingar.

Houve um tipo que se zangou tanto comigo - já nem sei porquê -, que, antes de arrancar num desespero de ruído e fumo, ainda me atirou:
«Sabe que mais? Uma coisa é certa. A senhora tem o poder de me chatear. Mas depois, fica aí fechada nessa guarita o dia todo. E eu vou ser livre! Adeus! Passe muito bem na sua guarita!»

Não foi ser livre, não. Eram oito da manhã. O helicóptero da Sic bem sobrevoava a bicha na A5. Deve ter ficado sem poder mover nem um milímetro de viatura durante uma boa parte da manhã!

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