Jonathan W. Ford, do Massassuchets, sempre fora uma criança com um verdadeiro dom para construções em papel e cartão. Contam os jornais da época - anos 50 -, que, desde ele muito novo, se lhe viam nascer nas mãos, pelo efeito mágico de uma tesoura sobre a cartolina, magníficas flores, magníficas casas, ou meninos, ou automóveis...
Em 1957 (geograficamente muito longe, no entanto, de um parto que iria trazer ao mundo alguém - que a minha proverbial modéstia me impede de nomear, mas constitui a outra razão pela qual o ano de 57 é, claramente, um ano maior...), Jonathan Ford concebeu um negócio engenhoso. Tinha uma família a sustentar, de modo que decidiu aproveitar o seu talento para fabricar sapatos...
... de cartão!
Os sapatos eram, aparentemente, tão bem desenhados, tão bem pintados e perfeitos, que ninguém suspeitaria que fossem de cartão. Deviam ser especialmente bonitos e desejáveis. E baratos. De todos os pontos de vista, óptimos: até à chuvada seguinte, como é evidente.
Ford não chegava a abrir propriamente lojas. (Não lhe convinha estar plantado no mesmo sítio quando viessem reclamar!). Montava uma espécie de tenda-sapataria: vendia, vendia, vendia. Desmontava, desaparecia dali. Seguia viagem.
As coisas correram-lhe mal por causa da celeridade com que as notícias voam. Consta que, quando chegou a uma insignificante vilória e aí montou a tenda, num dia aziago, a população, que já ouvira falar do genial embuste e, digamos assim, estava à sua espera, quase que o matou. Era uma população sem criatividade: não julgo que tivessem sido capazes de inventar matracas em cartão para bater nele; suponho que usaram mesmo paus tacos de madeira ou barras de ferro!
Alguém escreveu que, depois de sovado, Jonathan Ford foi o último exemplo de um homem que, nos Estados Unidos, se viu expulso da vila, montado sobre um carril, com o corpo coberto de alcatrão e penas.
Alguma coisa em Jonathan Ford, porém, faz com que eu o considere mais um mártir do que um trafulha. Mais um génio do que um ladrão. E, de algum modo, um herói no «desenrasca» - digno de um artista português!
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