sexta-feira, janeiro 09, 2009

O SINISTRO EPISÓDIO DA PORTA AUTOMÁTICA

Curiosamente, recebi um email insultuoso onde o senhor Joaquim Avelar, tratando-me, en passant, de «cocó de Buffalo Bill» (não me detenho a tentar descodificar o bizarro insulto), ameaçava processar-me por difamação. (Cf. post anterior). As pessoas são ressabiadas. Tudo as incomoda. Mas, pronto, para evitar problemas na Justiça, vou pegar no nome «Avelar» - que, notem, tive o cuidado de pôr sempre entre aspas, para verem que se tratava de um nome fictício - e vou substituí-lo, por exemplo, por «Avelã»; assim, de uma assentada, preservo a identidade de Joaquim Avelar (coitado: deve julgar que é um super-herói, necessitando de uma identidade secreta) e introduzo um elemento de comicidade que me agrada, porque sempre fui um autor muito engraçado. Chamemos-lhe, pois, «Avelã»: não é giro?

Sabemos que, já em criança, este senhor assassinara a própria mãe. Não tinha mais do que sete ou oito anos. Ele, bem entendido, não a mãe!
Hão-de perceber que, neste episódio, repousa uma profundíssima questão psicológica, que posso resumir na seguinte questão: se foi descoberta, ao lado do corpo da senhora, uma faca de cortar papel, por que razão é que o jovem preferira utilizar uma tesoura? É estranho, não é? Possuía uma faca - com uma paisagem da Madeira estampada no cabo - e, contudo, decidira-se por uma tesoura.

Claro que é importante que estes episódios, que vão surgindo, como as cerejas, ao sabor do teclado, não nos afastem do ponto central da vida do «Avelã» (ehehe, foi realmente uma ideia muito engraçada, chamar-lhe «Avelã»! Donde diabo me virá tudo isto???): o qual é, evidentemente, ter batido numa porta de vidro que deveria ter aberto - automaticamente - mas nunca chegou a abrir.

O que o senhor «Avelã» costumava contar - a mim nunca mo contou, falávamos pouco; mas narrou-a, por exemplo, a um cego muito esperto que depois, por sua vez, ma relatou. Sabem aquele cego que, em vez de tocar violino enquanto pedia esmola, ou acordeão ou até gaita de beiços, levava com ele um rádio e punha a música a tocar no máximo, deixando-lhe, tal artimanha, as mãos livres para sacudir a caixa de esmolas à passagem dos transeuntes...? Não foi esse, mas lembrei-me agora dele. Foi outro! - o que o senhor «Avelã» costumava, portanto, contar, é que a porta não abrira porque ele, «Avelã», era tão rápido, tão rápido, tão rápido, que não dera tempo ao desencadear do processo.

Duvido que alguém seja assim tão rápido, tão rápido, tão rápido. A não ser que o mecanismo estivesse emperrado. Ou a funcionar em câmara lenta. Como se a vida fosse um filme, mas um filme em que nem todos os elementos estivessem simultaneamente em câmara lenta, ou onde alguns estariam em câmara mais lenta do que outros.

Julgo que estas dissintonias são possíveis. Nas dobragens, por exemplo, tenho reparado que às vezes se ouve uma voz de mulher quando o homem abre a boca, e que quando a senhora move o seu fácies para responder lhe sai a voz do espanhol que estava a dobrar.
Isso só me incomoda nos filmes pornográficos. Mas não sei se não me estarei outra vez a afastar do tema...

Bem, estas questões filosóficas deixam-me sempre dor de cabeça.

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