sexta-feira, dezembro 31, 2010

POBRES AFORISMOS KAÓSTICOS

A felicidade é um estado de iluminação: a sombra faz, portanto, necessariamente parte dela também.

CULPAS

E a velha que se me pespegou em casa, perante as notícias do telejornal , diz-me, pousando de novo a renda sobre o colo:
«Parece-me que se precisarem de fazer um governo com alguém no país que não tenha nenhuma culpa nesta situação, vão ter de me ir buscar a mim: já não resta mais ninguém.»

A velha ainda me espanta.

quinta-feira, dezembro 30, 2010

PREFERIA ACREDITAR QUE A REALIDADE ERA MELHOR

Pensando bem, gosto que me mintam. Ou melhor, preciso disso.
No fundo, sou rigorosamente um daqueles que tipos que, principiando a perder cabelo no cocuruto da cabeça, ainda perguntam «Achas que estou a ficar careca?», com o desejo de que lhes respondam: «Tu?! Não, que ideia».
E com o desejo de acreditar que acreditam nisso.

OS FELIX

Diz a velha que se me pespegou em casa, pousando a renda sobre o colo, e esticando-me o indicador:
«Sabe que ainda sou da família do Bagão Félix?»
Pergunto, um pouco surpreendido com o despropósito: «Ai sim? Porquê?»
Ela: «Porque a minha avó também se chama Félix.»
Estou atónito. Acabo por não lhe perguntar se haverá ainda alguma ligação da família ao gato Félix.

SABEMOS O ESSENCIAL SOBRE TUBARÕES?



Esta pergunta de uma garota de cinco anos, para a qual ainda não encontrei resposta:


«Pai, os tubarões mordem aos seus donos?»

quarta-feira, dezembro 29, 2010

PÃO E CIRCO

Passo os olhos pela Sic: o psicólogo a que, respeitosamente, chamam Professor Quintino, fala, encantado por poder falar, a uma mãe estóica e a um padrasto completamente encharcado em medicamentos. Qual o tema? Vi o Meu Filho de 11 Anos Ser Atropelado.
Mudo, ligeiramente agoniado, para a Tvi. Goucha conversa com uma velha de carrapito, que limpa as lágrimas. Sobre quê? Sobre: Uma Criança que Levou Facadas. Deve ter morrido.

Tudo devém entretenimento. Quanto pior melhor. Ave, César!

segunda-feira, dezembro 27, 2010

UM CONTO DIDÁCTICO DE NATAL

kiko, o coelhinho, viu um dia, num centro comercial, um pai natal que prometia prendas aos meninos. o pequeno entusiasmou-se com aquela pujante barba branca e com os óculos de aros filiformes, dourados. o homem era bem gordo, sinal de que se alimentava bem. e ria muito, o que indica que a vida não lhe corria mal. em tempos de crise, aquela conjugação de sinais parecia-lhe convidativa.

nessa mesma noite abordou com a mãe o assunto. kiko queria ser pai natal. a mãe coelha principiou por sorrir, mas acabou chorando, ao perceber que o menino coelho estava decidido e não via mais nada à frente. «ó kiko, bigode lindo da mamã, o fofo não pode ser pai natal. o pai natal é um ser humano, kiko. oiça, querido, o fofo pode ser tanta coisa, olhe, engenheiro de tocas, como o papá, ou mesmo coelho da páscoa; o coelho da páscoa é uma espécie de pai natal em coelho, fofo...»

mas kiko não queria ser nada mais que não um coelho bem nutrido, de barrete vermelho, barba algodoada, branquinha, óculos e botas pretas. e, percebendo que isso nunca sucederia, o coelhito entrou em greve. numa espécie de greve, digamos. não comia. chorava. chorou dias, depois semanas, meses, estações. quando chegou o natal seguinte, kiko chorava ainda.

então, apercebeu-se de que, a partir de um certo ponto da noite, não era o único a chorar. crianças de todo o mundo choravam com ele, num coro deveras irritante. cessou o seu berreiro. lambeu e engoliu as próprias lágrimas. saiu para o frio, enterrando-se na neve, perguntando «que se passa? que se passa?»

contaram-lhe que esse ano o pai natal não aparecera; não havia prendas para ninguém. por causa da crise?, perguntou-se. e foi andando, com as patinhas deixando marcas fundas na branca neve. andou sem rumo, errado ao ritmo das suas divagações, até que, um pouco mais adiante, encontrou um trenó voltado de cabeça para baixo, vazio. e umas renas estranhas. «estranhas» porque demasiado coradas e com soluços.

ouviu um gemido. atrás de um arbusto, kiko deparou com o próprio pai natal. estendido no chão, ambas as mãos sobre o ventre, como se tivesse apanhado um tiro. e gemendo, gemendo. que se passa?, perguntou de novo, que se passou?

as renas haviam festejado com excessiva euforia. um copo aqui, um copo ali, risos, mais umas taças e, por fim, bebendo directamente das garrafas - tinham-se embriagado. conclusão: vogando depois pelo espaço com a liberalidade típica dos bêbados, descontrolaram-se e chocaram contra uma árvore durante a aterragem. e ali estava o pai natal, incapaz de se levantar, carpindo as suas mágoas e a de todos os meninos que, esse ano, não teriam presentes.

kiko ofereceu-se imediatamente para ser pai. um papá natal já atrasado, mas ainda cheio de prendas. punha o gorro, uma barba postiça, como os pais natal dos centros comerciais, e ia pelas chaminés. assim foi, de facto. e devo dizer que esse foi o melhor de todos os natais. pelo menos para kiko.

já perceberam que esta pequena história encerra uma lição e uma mensagem natalícia, não é verdade, amiguinhos? sim: se conduzir não beba. (pois, como acrescenta a daisy: porque pode entornar!)

aforismo kaóstico

só vale mesmo a pena aturar o que achamos digno de se adorar

sexta-feira, dezembro 24, 2010

UMA CHEGADA PREVISIVELMENTE RUIDOSA


Aceito sugestões que me salvem.

Daisy, minha filha (suponho que instigada por Dudu, seu irmão), propõe-me que espalhe berlindes junto à chaminé: quer que a chegada do Pai Natal, escorregando na berlindada, seja suficientemente barulhenta para que ela acorde e lhe possa dizer: «Pai Natal! És tu!», e o abrace ternamente.


Que faço? Que digo? Que invento?


BOAS FESTAS AOS MEUS QUERIDOS LEITORES: A TODOS OS TRÊS!

quinta-feira, dezembro 23, 2010

O ARTISTA E o artista

Vi-a hoje de manhã; ao longe, não vislumbrava mais do que breves e indistintos traços, que o meu cérebro completou.
E apaixonei-me de uma súbita paixão por essa mulher, em parte criada (ou adivinhada) por mim, a partir de traços semi-vislumbrados. Um passo ágil que, com a cooperação benéfica do vento, lhe entreabria um casaco comprido, cinzento. Uma saia minúscula, que entreaparecia pelo entreaberto do casaco. Um cabelo longo, voador: não apenas esvoaçante.

Reeencontro-a à tarde, no corredor do colégio onde vou buscar a minha filha. É a mesma mulher. Mas não é a mesma mulher, porque a imagem se dissolve em face dos seus olhos esgazeados, os dentes demasiado saídos, o nariz enervantemente arrebitado e a voz com que esganiça contra a sua filha. Caramba. Como eu preferia a minha composição matinal.

Hum. Não digo que não haja Deus.
Só me espanta que, às vezes, eu pareça ser tão melhor artista do que Ele.

SÓ UMA PERGUNTA

Uma pessoa de quem se diz «Estás mesmo divertido», quando a vemos sob o efeito de um certo número de copos, é uma pessoa divertida? Ou será realmente que o álcool lhe empresta talentos que ele não possui?!

segunda-feira, dezembro 20, 2010

COGNOME

Sempre se achou e se disse, na família e na escola, que ele tinha uma grande capacidade. Não se percebe onde lhe pressentiam a «capacidade»: talvez no olhar brilhante a atento, ou numa certa inclinação da cabeça, quando escutava as pessoas; talvez porque fosse fácil amá-lo e o amor é um excelente revelador das capacidades do ser amado. Talvez por causa de algumas frases - tinha frases memoráveis - ou por causa de algumas perguntas - tinha perguntas talentosas. De modo que nunca se discutiu o seu «potencial».

E, contudo, o tempo passava e não havia quaisquer concretizações. Na escola, as classificações eram débeis. O discurso dos professores variava pouco: «Não aproveita as suas capacidades». Suspeito que ele próprio não saberia o que fazer para aproveitá-las. Lá estavam elas, adormecidas, ternas, capazes, como capacidades que eram, mas inconsequentes. Na família também foi não fazendo o que se esperava. Não escreveu, não construiu, não engenhou. Não produziu artigos, nem livros, nem filhos, nem pontes, nem pentes, nem guarda-chuvas, nem plantas, nem filmes, nem ossos, nem danças, nem pinturas, nem bâtons, nem baterias, nem sofás. Nem chuva, nem sol. Era de uma genial, tranquila e ineficiente capacidade.

Hoje, com oitenta e sete anos - fará amanhã, dia 21 de Dezembro, oitenta e oito -, chamam-lhe: «A Promessa».

domingo, dezembro 19, 2010

O MEU CONTRIBUTO PARA A CIÊNCIA

E se o daltonismo se resumisse a um problema lexical? Não tanto o não distinguir as cores, mas não saber distinguir entre os nomes das cores?

sexta-feira, dezembro 17, 2010

AFORISMOS KAÓSTICOS

Podemos pensar que, ao âmago de certas pessoas demasiado couraçadas, conseguiríamos até chegar (com tempo e desde que elas valessem a pena e o trabalho), dissolvendo-lhes a carapaça, camada após camada. Mas qualquer especialista em limpeza sabe que é um erro pensá-lo: a sujidade entranhada de muitos anos não se arranca de forma alguma.

CONVERSA DE LOCUTORES

LOCUTOR 1: E então, José, quais são as máximas para hoje...?
LOCUTOR 2: As máximas para hoje? Aaaah, olha, por exemplo, «quem tudo quer tudo perde», e...
LOCUTOR 1: Oh, José, pelo amor de Deus. Referia-me à meteorologia. Não tens aí as temperaturas máximas?!

quinta-feira, dezembro 16, 2010

A Pensão

A pensão era tramada. Havia um rapaz que me olhava fixamente, à porta, mas não dizia nada, nem sequer quando lhe perguntei se havia quartos vagos. No primeiro dia - e, depois, todos os dias em que ali vivi -, acordou-me às quatro e meia da madrugada, gritando «Um palito para o gorila! Um palito para o gorila! Um palito para o gorila!» [Invejei todos os camponeses que despertam ao canto do galo, enquanto a mim calhava um rapaz de óculos muito graduados, que não me respondia às perguntas, e só percebi que não era mudo porque às quatro da manhã clamava obcecadamente por um certo palito para um determinado gorila...]

A senhora Polina, dona da pensão, também me olhava fixamente. Lambia-se, embora eu não seja fisicamente nada de especial. Talvez fosse um tique. Cheirava a perfume intenso e bebia de um cantil. «Chá», garantia-me, limpando a boca com as costas da mão.

Eu não tinha dinheiro para mais do que aquela pensão. Fugira à família, atrás de uma italiana que me trocou por um alemão. Os disparates que se fazem na vida. A italiana tinha dentes de cavalo, uma voz rouca, exccessiva, que primeiro me fez perder a cabeça (e depois, quando ela insistia em me rouquejar obscenidades, na cama, acabou por me fazer perder qualquer vestígio de excitação...); comia de mais, chamava-me «Berlusconi mio» e arrotava.

Por que deixei tudo por ela? Porque era italiana? Porque me obrigou a acompanhá-la, apontando-me uma pequena pistola à cabeça? Sei lá. Acho graça, em todo o caso, que hoje, quando me queixo, me perguntem, sarcasticamente: «Então, por que diabo foste com ela? Apontou-te alguma pistola à cabeça?»; e pensem que sou tolo, quando respondo: «Olha, por acaso sim.»

Voltemos à pensão. Quando lá cheguei, estava triste e deprimido. Sem dinheiro. Andava com fome e com sono. A senhora dona Polina lambia-se. Fazia crochet, ou seria tricot? Adormecia à lareira, numa cadeira de balanço, ouvindo a história do senhor coronel. Digo bem: «a história», porque era sempre a mesma. E quem me pôs a ideia triste na cabeça foi o Faustino, que vivia na porcaria da pensão. Jogava ao dominó e, enquanto o coronel voltava à mesma eterna história e a velha dormitava, uma noite disse-me: «Essa gaja é podre de rica. Um dia faço um disparate.»

E eu pensei: «Quem faz um disparate sou eu.»

Mas nunca direi ao mundo que disparate quis fazer - e tentei fazer - e quase fiz!

quarta-feira, dezembro 15, 2010

aforismos kaosticos

Certas verdades só podem ser pronunciadas uma primeira e única vez: quando as repetimos, estão já cheias de pó.

Também algumas paisagens nos mostram a sua verdade só quando as contemplamos pela primeira vez.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

NÃO LEIAM ISTO SE NÃO QUEREM ENTRAR EM DEPRESSÃO

O túnel do tempo tem a forma de um funil. Um funil que, em dado momento da vida, muda de posição.
Enquanto somos crianças, o nosso passado é ainda estreito e o futuro uma boca larga.
A partir de certa altura, adivinhamos que o funil se inverteu. A boca larga corresponde ao passado - e o futuro estreitou-se.

Antes, tinha saudades do futuro.
Hoje, digamos,
o que era para ser futuro, ou não aconteceu de todo, ou acabou tornando-se passado.
E, portanto, ter saudades do futuro é ter saudades do tempo [já passado] em que ainda tinha muito futuro...

domingo, dezembro 12, 2010

A CONTENÇÃO

Às vezes, basta uma constatação de muito poucas palavras para se conseguir ser hilariante.
Ontem, no Eixo do Mal, Pedro Mexia limitou-se a chamar a atenção para isto:
«Ouvimos Alberto João Jardim chamar demagogo a Carlos César.»

Não era e não foi preciso acrescentar uma única palavra para fazer a piada ter piada.

sábado, dezembro 11, 2010

E PASSEMOS A ASSUNTOS MAIS INTERESSANTES, COMO LADY GAGA

Tenho uma opinião sobre a (o?) WikiLeaks (escreva-se como se escrever...).
Em primeiro lugar, julgo que a questão da ameaça à segurança do único país que nos protegeria do eixo do mal e de todos os males, como argumenta Miguel Sousa Tavares, simplesmente se não põe. O «mal» existe, efectivamente, e a preservação do segredo é um aspecto fulcral da diplomacia. Mas o secretismo dos EUA vem sendo sistematicamente posto em causa, e desde há muitos anos, pela opinião pública - mais até do que pela imprensa -, pelo cinema ou pela literatura. Lembrem-se lá de um filme norte-americano dos últimos anos em que os bastidores da Casa Branca, da CIA ou do FBI não tenham sido completamente denegridos. (Com excepção, é claro, dos da Walt Disney).

Que uma fortíssima democracia como a americana resista e sobreviva às suas ameaças internas, aos caricaturistas, aos teorizadores da conspiração, aos objectores de consciência, é um teste que só serve para a fortalecer - mas, sobretudo, para a obrigar a repensar-se e a impor-se limites. Não é arrepiante que os States tenham peritos a «opinar» já não só sobre Israel e Berlusconi, mas sobre Moçambique e Mugabe, a cor das fezes da senhora dona Merkle, as prendas de Natal de Sarkozi? Até que ponto é que tudo pode ser minuciosamente vigiado sem que ninguém saiba, e sem limites nem precalços?

Não creio que Julian Assange (e este, escreve-se assim, ou assado?) seja um herói. Não respeito particularmente a lógica desenfreada da WikiLeaks (escreva-se como se escrever...). Mas que nenhum terrorismo justifica o Big Brother parece-me evidente. Que a fuga de informações é, por vezes, útil e reveladora, parece-me evidente. Que onde há telhados de vidro uma pedrada vem a propósito, parece-me evidente. O resto é paranóia. De Obama, que tem responsabilidades na conduta de uma superpotência. De Miguel Sousa Tavares, que não tem a menor responsabilidade.

MAS POR QUE SERÁ QUE SÓ EU É QUE PENSO NESTAS COISAS?!

O inqualificável Eanes, desde que deixou de ser Presidente, dedicou-se ao estudo da teoria política. Ele fez mestrados, ele fez doutoramentos. Oiço-o que, na rádio, se pronuncia sobre Camarate. E reparo que continua recorrendo a ditados e expressões idiomáticos portugueses. «Isso é uma faca de dois legumes» ou «águas passadas não moem moínhos» são os meus predilectos.

Posso propor dois ditados que o levem a pensar duas vezes antes de abrir a boca?
«Quem cala, contente»
e
«O silêncio é touro».

Quanto ao acidente/crime de Camarate, eis, graciosamente, a minha opinião: a culpa, como tudo o que é mau neste país, só pode ser do governo.
E não me digam que o actual Primeiro-ministro era, então, demasiado jovem. Nunca ouviram falar de viagens no tempo, não, pobres mentes ingénuas e anti-científicas?

quarta-feira, dezembro 08, 2010

QUANDO A EFECTIVAÇÃO ESTRAGA A ESPERA

Aforismava eu, há dias, que, às vezes, esperarmos por alguém que não vem, pode ser bom: porque nos liberta.

Comentava/perguntava Zorbas, o inefável gato, se eu também não reparara que, frequentemente, o grande prazer do reencontro está na antecipação do reencontro.

Curiosamente, na diferença de perspectiva, Zorbas e eu concordamos num ponto:
O encontro propriamente dito tende a ser o que estraga tudo.

CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS ACERCA DA DOCÊNCIA

Historicamente, a origem da figura do professor é a do pedagogo: um escravo culto, que usa o seu saber para o progresso espiritual do jovem amo.
Nesta relação, o poder está inequivocamente do lado do ignorante (e simultaneamente, o mais jovem), que faz do sábio um instrumento da sua evolução.

Esta origem histórica diz tudo acerca do actual estatuto do professor. Diz tudo acerca da visão que dele têm a sociedade, os meninos, os pais dos meninos. Diz tudo acerca do ilimitado poder do Ministério sobre o grupo de escravos cultos que tutela.

Claro que, entretanto, a situação dos actuais professores não é em tudo idêntica à dos antigos pedagogos: alguns professores nem sequer são especialmente cultos.

terça-feira, dezembro 07, 2010

FÉ & DÚVIDA

Acredito que exista vida inteligente algures neste cosmo imenso. Que a haja na terra é que é duvidoso.

NA PAINATALOLÂNDIA

DUENDE - Pai Natal! Pai Natal! O mano diz que não são nada os pais dos meninos que lhes dão presentes! Diz que não existem «pais dos meninos». Diz que quem dá os presentes és tu...
PAI NATAL - Existem sim senhor. Não acredites no mano, vá lá. Olha. Já escreveste a tua carta para os papás, com a lista das prendas que tu queres? [Raios! Os mitos e as fantasias são postas em causa por duendes cada vez mais jovens...]

domingo, dezembro 05, 2010

não farás rir todos, a não ser que não tenhas graça

Humorista:
Podes não te preocupar com o humor político.
Mas ai de ti se não levas em conta a política do humor:
E, relativamente à política do humor, isto deves saber: é que ele não é democrático.Não agrada a todos - o humor faz inimigos. E a linha a partir da qual uma graça não gera inimigos é a linha atravessada a qual o humor abdica de si.

Podes ter inimigos sem ter piada. Mas não podes ter piada sem ter inimigos.

sábado, dezembro 04, 2010

O SOL


Aqueles que tocam no Sol, queimam-se com certeza!
Não é uma metáfora nem, sinceramente, espero que tirem daqui qualquer lição.

É um facto científico.

SERÁ QUE ELA QUE PENSA O PAI NATAL É SURDO?

Daisy vem, em segredo, dizer-me que o Pai Natal ouve tudo o que dizemos e que, se dizemos disparates, ele se vinga. (Foi o irmão, suponho, que lhe deu que pensar...).
Pergunta-me, sempre em segredo, se o Pai Natal consegue ouvir, mesmo que ela me segrede.
Respondo-lhe que depende do tom. Deve haver uma certa qualidade de bichanar que nem mesmo o Pai Natal consegue ouvir.
Proponho-lhe que ensaiemos. Daisy tenta, cada vez mais baixo.
Chegamos à conclusão de que, infelizmente, o tipo de segredo que a Daisy me diz e o Pai Natal já não ouve, é aquele que eu próprio também já não oiço.

!

Posso compreender que se não aprecie particularmente o ponto de exclamação. É um sinal magro e arrogante, demasiado óbvio e quase ofensivo nessa sua ausência de subtileza. Que prescindam dele, muito bem. Formem um movimento literário pós-moderno que faça da ausência do ponto de exclamação o seu efeito forte: muito bem. Até aí chego eu! Agora, que se alimente um movimento para excluí-lo do mercado, discriminando os que o empregam, troçando e proscrevendo a sua aparição, isso tem duas leituras: ou é ironia ou é tontice!!!
Preferia que fosse ironia. (Gosto muito da ironia). Mas vai-me parecendo que é tontice!!! Às vezes, chegando-me de pessoas inteligentes, que admiro e cujos blogues sigo.
E se for tontice!!!, caramba, que grande tontice!!!

quarta-feira, dezembro 01, 2010

VERDADE vs. IRONIA

A ciência é crédula; e dogmática, claro, mesmo quando quer passar por anti-dogmática: confia excessivamente em que o nome mais adequado para a sua representação da realidade é: «verdade».

A filosofia, pelo contrário, sendo impossível, contém, como parte integrante de si, a consciência da sua impossibilidade. O que a move não tem por nome «verdade». Mas ironia.

A PIOR SITUAÇÃO NEM SEMPRE É A QUE PARECE

Estou sobre o infinito precipício.
Agarro-me a uma ervinha. Sinto que esta se rasga. Rrrrrr!
Não é que não tente voltar ao cimo firme, eu tento, eu tento. Mas não consigo.
E sabem que mais? Se não voltar, então que caia de vez. (Preferencialmente, depressa!)
Aqui, ridiculamente agarrado a uma ervinha, isso é que não.
É que o ridículo também mata. Mais lentamente.