Não estava ninguém lá em baixo. Nenhuma pessoa conhecida. Maria nenhuma.
Hermangarda sabia, todavia, que se não enganara. Inexplicavelmente, num sítio onde nenhuma razão conhecida colocaria a vizinha Maria, o certo é que a vizinha Maria aparecera, e a vira! E a reconhecera...
Claro que Maria não podia estar absolutamente segura de a ter reconhecido. Ou podia? Se ela lhe falasse mais tarde no assunto, o que Hermengarda tinha de fazer era mostrar um espanto convincente:
«Eu?! No bairro tal? Não! Podia lá ser. Eu, a que propósito...?!» (A vizinha Maria não associaria o bairro ao irmão de Hermengarda. Ninguém, nem mesmo a sua sogra, soubera alguma vez onde vivera ele, com quem nunca se tinha dado.)
Sentia-se mal, uma opressão no peito, uma turvação num prazer tão claro, talvez no único autêntico prazer na sua vida. Não conseguiu relaxar. Dava voltas, sentava-se, levantava-se, mas não era capaz de deixar de ser Hermengarda. Tinha, de resto, o grito de Maria ecoando-lhe ainda nos ouvidos. «Hermengaaarda!»
Não quis mais. (E regressaria? Talvez não já para a semana, mas dali a duas ou três semanas...? Poderia voltar a ser ali feliz...? E, entretanto, o legítimo proprietário não acabaria por aparecer...?) Não suportava nem mais um minuto daquela angústia. Ao fim de dez minutos, se tanto, preparou-se para se ir embora. Pegou na mala e espreitou pela janela, oculta, discreta, quieta.
E viu-a. Ou melhor, viu-as. Maria e sua sogra, lá em baixo. Maria apontava o dedo numa vaga direcção.
(CONTINUA)
quarta-feira, novembro 07, 2007
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