Ensino aos meus alunos, no 11º ano, que, no acto e no modo de argumentarmos, deveria haver sempre um tal rigor, que, para se convencer outrem, a nossa argumentação não careceria de nada mais para além da sua própria força. Nada senão a solidez no encadeamento dos raciocínios, nada senão a forma como as ilações se imporiam por si.
Era bom, com efeito, que conseguíssemos concentrar-nos sempre nos argumentos. Deste modo, para ser convincente, um discurso nunca deveria depender, por exemplo, de uma voz bem colocada ou atraente. Sê-lo-ia tão-só pela sua lógica interna: ainda que exposto por um sujeito de fraca figura e voz débil, com espuma nos cantos da boca e nódoas na camisa.
Posto isto, devo confessar que me não é indiferente que a voz que defende os professores, no Parlamento, seja sobretudo a de Ana Drago.
Não me é nada indiferente que esta jovem brilhante se tenha tornado o verdadeiro símbolo político da luta dos professores, porque à inteligência dos seus argumentos se aliam coisas tão simples e acessórias como a limpidez e a segurança da sua voz; o pormenor de nos transmitir a ideia de dizer o que pensa, pensado profundamente tudo quanto diz (ao invés de se limitar a repetir o que já ouvíramos a outros, ou de se limitar a ler cábulas, como muitos dos seus colegas na Assembleia); ou até o modo como, delicadamente, conclui o seu discurso onde entende conclui-lo, não deixando que lhe cortem o pio, apesar da sempiterna ameaça de um qualquer Presidente que, no estrito cumprimento do regimento, lhe vai repetindo: «Esgotou o seu tempo, senhora Deputada»; «Faz favor de terminar!». Ana Drago responde «Termino já» ou «E termino, senhor Presidente...», mas prossegue triunfalmente até ao fim, ou até que tenha exposto o que considera essencial.
Esta jovem reconcilia-me com a política. Mostra-me como é, de facto, um preconceito extremo pensar-se que ser deputado significa, necessariamente, ser-se medíocre.
Ela, justamente, nunca o é.
Agradam-me particularmente os frente-a-frente. Os frente-a-frente com a ministra, então, são, para mim, momentos altos.
E mesmo tendo de me penitenciar por fugir ao terreno dos princípios, das ideias e dos argumentos, penitenciando-me por descambar para uma dimensão retórica e, sem dúvida, falaciosa, penitenciando-me por estar a elogiar Ana Drago de um modo que ela própria não veria com bons olhos, deixem-me perguntar: ao nível do simbólico, de que outra forma poderíamos ser tão intensamente postos em face da certeza clara e maniqueista de haver, nesta história, um lado certo e um lado errado, um lado bom e e um lado mau e, mais do que isso, um lado bonito e um lado feio, do que vendo Ana Drago, aqui e, além, a senhora dona ministra da Educação?
Este post não pretende argumentar. Não é racional nem razoável. Não visa convencer. Tomem-no por um desabafo: sinto-me bem representado. Está dito.
terça-feira, março 04, 2008
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