segunda-feira, março 31, 2008

A PROPÓSITO DE AVALIAÇÕES

Para que eu me tornasse no professor que agora se quer, de novo, avaliar - o que é justo, desde que se trate de uma avaliação justa -, tive de estudar muito; entreguei-me à filosofia, li Platão, Kant e Hegel, discuti teses, apresentei dissertações, fui classificado, licenciei-me, mestrei-me, doutorei-me.
Se tivesse querido ser médico, ou engenheiro, teria tido igualmente de me preparar. Seria testado, examinado, classificado sobre anos de empenho e trabalho.
Curiosamente, para se ser político, não me parece que o candidato tenha de se preparar grandemente: sob o argumento um pouco débil de que os políticos são avaliados pelo povo, nas urnas, a democracia não considera a política como matéria de estudo e reflexão. Esquece que seria importante fazer-se uma ideia, mesmo pálida, sobre o que o senhor A ou o senhor B compreenderam da posição de Aristóteles, de Rousseau ou de John Locke, de Maquiavel, de Hegel, Saint-Simon, Proudhon ou Bakunine, Marx, Engels, Popper ou Rawls - e abrevio, limitando-me a juntar estes poucos nomes só para recordar que, se não conseguimos imaginar Mendes Bota, Luís Filipe Meneses ou José Sócrates a pronunciarem-se acerca das teorias que estão associadas a esses pensadores, é porque, no fundo, temos noção de que para se ser político não é necessário estar-se preparado, ou seja, haver-se estudado minimamente História, Geografia, Sociologia e Filosofia Política: basta ter-se lábia; ingressar-se, na altura certa, numa juventude partidária; ligar-se aos pesos pesados do partido escolhido; e aguardar a sua vez. É isto!

É próprio da democracia a ideia de que a política não deve estar reservada a especialistas; ou que deve ser algo tão simples e acessível a todos, que uma cozinheira ou uma mulher-a-dias (sem desprimor) seriam capazes de a exercer: e, mais, teriam direito a fazê-lo. O problema está no seguinte: as cozinheiras ou as mulheres-a-dias não se dedicam à política; dedicam-se-lhe, em contrapartida, uns senhores e umas senhoras que se tornam profissionais do parasitismo: espécimens, em geral, de uma ignorância atroz e de uma ambição ignara. Bem sabem que não têm de mostrar o que compreenderam do assunto; bem sabem que lhes basta ser hábeis.

Eu serei avaliado. Pela sexta ou sétima vez na minha vida. Certo.
Mas, na verdade, os políticos que se instalaram na 5 de Outubro deveriam, em algum momento, ter respondido a algum tipo de teste, feito um qualquer exame de Política, de Pedagogia, de Cultura ou de Educação; se tivessem sido avaliados em devido tempo, não assistiríamos à sua penosa incapacidade para encontrarem os meios certos e justos para avaliarem os outros...

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