Pensei que não ia adormecer, que nunca mais na vida tornaria a conseguir dormir.
Enganei-me redondamente.
Queria gritar por Skinny. Via-os retirarem-se e abri a boca com o seu nome desenhado nos lábios. Mas enganava-me de novo. Não me saiu voz e o cansaço era tamanho que mergulhei numa escuridão enorme. Depois, acordei. E readormeci. E acordei novamente, por breves instantes, e tornei a cair num sono não reparador, um sono angustiado e infeliz.
Só despertei uma última vez com a invasão do corpo policial. Eram cinco ou seis. Gritavam ordens, disparavam armas, moviam-se pelos quartos, prendiam pessoas, libertavam-me, agasalhavam-me num cobertor, punham-me entre as mãos dormentes um chávena de uma bebida amarga, fumegante.
Eu só queria saber de Skinny. Perguntei ao inspector se haviam prendido o chefe do bando. Que sim. Se era um miúdo franzino. Que não. Não havia nenhum menino franzino. O chefe era um jovem de bom aspecto. Não falava. Nenhum falava, aliás. Haviam sofrido um tratamento que os fizera esquecer tudo. Ou um tratamento ou, alternativamente, marteladas na cabeça. Nenhum dos homens sabia dizer fosse o que fosse. A não ser «Bllllgh» e «rhmmmm» ou assim. Com olhos esgaseados.
Também me haviam feito algo. Tenho um corte na cabeça. Fechado com agrafos. Julgo que algo me foi implantado no cérebro. Riem-se. Todos. Ou ficam tristes, têm pena. Já há quem fale em internar-me. («Numa casa de repouso», sugerem, «só para descansar por uns tempos...»)
Às vezes pergunto-me se não sonhei. Mas, então, que é feito de Skinny? Também me pergunto se ele era realmente o chefe, ou se os convencera de algum modo a segui-lo (o miúdo é muito esperto, tem lábia; comigo, sempre a teve...) num estranho plano para, depois, me salvar. Teria batido, no meio da confusão, com um martelo nas cabeças deles? Mas, então, por que não aparecia?
Outras vezes, penso que ele era o chefe, sim. E que me implantaram qualquer coisa na cabeça. E vem-me à ideia: um dispositivo para me tornar um pai mais calmo?! Menos nervoso? Menos irascível? Porque, agora, me tenho sentido um excelente pai. Claro, talvez isso se deva ao facto de o meu filho ter desaparecido...
Em todo o caso, não tenho com quem discutir esta última ideia. É, aliás, quando a refiro, sempre que a refiro, que sacodem compungidamente a cabeça. E falam em internar-me!
FIM
sábado, março 22, 2008
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