sábado, março 18, 2006

DIA APROXIMADO DO PAI

No dia dezassete de Março, o infantário da minha menina (já com cinco meses!) festejou com os pais das crianças o «dia de semana mais próximo do dia do pai».
Fomos tomar, digamos, um leitinho com os meninos.
E ali estávamos, cinco ou seis pais, algumas mães, uns quantos avós, várias educadoras de bata de riscas azuis, todos num atropelamento mútuo no interior de uma sala pequenina, diante de uma mesa redonda, ajoujada de salgadinhos e de Ice-tea, que os pais tinham sido convidados a levar mas em que, embaraçadamente, ninguém se atrevia a mexer.
Cada pai com o seu rebento ao colo, éramos, ali, um grupo de pessoas que se não conheciam umas às outras e não sabiam de que falar. Alguns sentavam-se, como Brancas de Neve do sexo masculino, em cadeirinhas da casa dos sete anõezinhos, minúsculas, muito coloridas.
Ríamos exageradamente da mínima gracinha de algum dos bebés, do mais pequeno tropeção, do menor choro.
Havia balões, umas bonecas de trapo presas, do tecto, por elásticos.
Um pai falava ao telemóvel.
Escreveramos previamente uma mensagem paterna em cartões que nos olhavam agora, ternamente (ou ridiculamente), afixados numa parede.
SER PAI É, dois pontos - e, para um: «Amar muito»; para outro: «Ser a mais feliz das criaturas e dar milhões de beijinhos aos seus filhos» (se fosse só isso...!); para alguém (talvez o de fato e gravata, que falava ao telemóvel): «Ter sempre tempo para eles».
E eu, que escrevera uma patetice de que me envergonhava um pouco, só conseguia ruminar na frase que não ousara escrever, mas seria ali, naquele momento, a mais sincera, a mais sentida, a com mais sentido, e a mais bizarramente intensa que me poderia ocorrer:
SER PAI É, dois pontos - «Amar-te ao ponto de vir a esta festinha de quase-dia-do-pai».

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