quinta-feira, março 30, 2006

IMAGENS KAOSTICAS (I)

Eis-me sozinho ao volante do meu Honda básico e insípido.
Abrando à medida que me aproximo de um semáforo.
E diante de mim - de costas, portanto - vejo um minúsculo bólide, descapotável, vermelhão, daqueles que só têm dois lugares.
E sentados nos dois lugares, dois homens calvos: verdadeiros carecas à moda antiga, sem complexos nem disfarces, sem cabelos falsamente puxados de uma orelha para a outra; não: algum cabelo na nuca, nas têmporas, mas o alto da cabeça livre e reluzente. Tento ultrapassá-los quando o semáforo muda. Não consigo. Desaparecem numa trapalhada de ruído e fumo.

Tudo nesta imagem se desajusta - felizmente, febrilmente, euforicamente - em relação ao conceito de um carro desportivo, de um descapotável. Em primeiro lugar, porque nos habituámos estupidamente a que o esperável seria, nesses lugares, um homem e uma mulher. Em segundo lugar porque, fosse como fosse, deveriam ser ambos cabeludos. Um descapotável é o mesmo que cabelos ao vento, longas cabeleiras loiras de Barbie, com óculos de sol no alto, a fazer de bandelete em vez de proteger os olhos (elas), e franjas de quéques, a tapar as orelhas, nos homens.
Considero, pois, estes dois senhores carecas verdadeiros revolucionários da estética do quotidiano.
Bem-vindos ao Kaostico

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