segunda-feira, março 27, 2006

PREDILECÇÕES

Muito longe da intenção de classificar ou, sequer, de aconselhar de cátedra, venho hoje referir-me àquelas pessoas, das que andam por aí a fazer coisas nas mais diversas áreas, que têm conseguido captar-me a atenção e cujo percurso sigo:

No humor:
Considero Nuno Markl imperdível; a ter de escolher, prefiro o Markl radiofónico ao Markl televisivo, porque se é verdade que a rádio e a televisão são ou implicam linguagens completamente diferentes, então o «meu» Nuno Markl é o da Antena 3, onde o seu «Há Vida em Makl», que oscila entre o mero sorriso - amarelo - que às vezes provoca e a genialidade hilariante, é para mim o pequeno-almoço, a oração matinal.
Mas a mais recente descoberta que fiz é José de Pina, no «Prazer dos Diabos»: a sua imaginação delirante, sob a forma rude e truculenta, quase malcriada, que reveste,é de um efeito cómico irresistível. (José de Pina é um dos autores do Contrainformação e de um ou dois livros perfeitamente dispensáveis...)
Gosto dos Gato Fedorento: mas que dizer acerca deles que o país inteiro não diga já - até um Banco, que os usa na sua publicidade?

Na política:
Confesso, tristemente, que ninguém, rigorosamente ninguém: nem já a Ana Drago me é suportável.

Na literatura:
Çonçalo M. Tavares criou um universo onde a fantasia se articula de uma forma matematicamente perfeita (um pouco à maneira de Lewis Carrol) e onde a sua bizarria tem a eficácia de um relógio. As personagens que passam de uns romances para os outros, com os seus nomes estrangeiros (frequentemente de ressonância germânica) compõem uma complexa rede cujos elementos são uma inocência infantil, o puro prazer da brincadeira que reinventa os mais simples objectos, o rigor e a contenção da forma e dos meios, as referências literárias que fazem de cada uma das suas palavras, de cada uma das suas frases, uma remissão para livros e autores, como se na sua obra se percepcionasse toda a sua biblioteca.
Frederico Lourenço é o escritor cuja prosa, neste momento, me encanta mais: pela sua limpidez, pela sua serenidade, por uma sobriedade que não é simplicidade, mas se consegue por um trabalho aturado na busca do «mot juste». Para além dos seus romances, dos seus contos, a que subjazem uma visão e um ideal de aristocracia muito belos, há um texto curto sobre a sua infância e adolescência: trata-se, para dizer tudo, do texto mais delicado e profundo acerca da homossexualidade, da sua própria homossexualidade, onde a naturalidade com que é apresentada, como uma condição da sua vida, está longe de querer chocar, ou impor, ou sequer provar seja o que for.

Na pintura:
Há um tipo chamado Nuno Viegas. Para não falar, também eu, da inevitável Paula Rego, relembro este Nuno Viegas com cujo trabalho deparei por mero acaso numa exposição do Centro Cultural de Cascais (Tinta Envenenada). Dos seus pequenos quadros a preto e branco, onde o traço satírico, carregado de influências de BD, pressupõe uma narrativa sobre a qual podemos unicamente especular (por que razão aquelas personagens chegaram à situação que nos é desenhada? Por que prega aquela espécie de Sócrates para um urso de peluche? Que lhe sucederá depois?) até às pinturas maiores, cheias de cores vivas, de um realismo no traço que não descura nenhum pormenor (notem os ténis do jovem pintor autoretratado num quadro) para melhor nos mostrar imagens de um irrealismo que nos perturba, o que vi da pintura de Nuno Viegas fez-me pensar duas coisas: 1. Um dia, este jovem será famoso e irá residir em Londres; 2. Um dia, terei dinheiro para comprar um destes quadros (sei, até, qual compraria: mas não digo...). Posso ter-me enganado numa, ou noutra, ou nas duas, até poque não tornei a ver nem a ouvir falar de Viegas. Mas seria pena.

Na música:
Há quanto tempo não oiço nada interessante pós-Ala dos Namorados???

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