Num misto de curiosidade, receio, inveja e genuina vontade de aprender e de melhorar, passei um fim-de-semana viajando na blogosfera, confrontando-me com blogues meus vizinhos, tentando compreender, entre outras coisas - não posso deixar de o dizer: é uma angústia que nunca me abandona - se os «outros» suscitam mais comentários do que o meu e, a ser assim, por que razão. Serão muito melhores? Muito mais interessantes? Mais simples? Oferecem prémios?
Dois blogues que já visitara e revisitei foram, por um lado, o da Margarida Rebelo Pinto, por outro, o do seu crítico mais feroz, Mr. George.
A Margarida tem um blogue excessivamente profissional. Dir-se-ia já feito por secretárias, por assessoras, por pessoas pagas a recibo verde. A dimensão de marketing que o seu blogue transpira por todos os poros chega a amedrontar. Ficamos a conhecer algo sobre livros publicados, livros a publicar - e somos, de facto, postos perante um aliciamento ao comentário sob a forma do irresistivel pedido, feito aos leitores, das suas próprias «histórias».
George é uma pessoa inteiramente convencida de que escrever sobre livros tem de ser dizer mal. Nas antípodas do que afirmava, por exemplo, George Steiner, a propósito da crítica como «acolhimento», como desvendar de sentidos, tecer de cumplicidades, reflexão comum. Do meu ponto de vista, a crítica pode ser - deve ser - também denúncia, desmontagem, mas quando se reduz a isso, quando é uma operação sistemática de destruição de obras e autores, confundindo-se com o puro sadismo e com o gosto de desfazer textos como as crianças desfazem os seus bonecos, faltar-lhe-á não um elemento qualquer, mas o elemento essencial. Mas, a George, não faltam comentários. Rôo-me de inveja.
Num blogue chamado «O Jornal dos Marretas» ou «O Blogue dos Marretas» ou uma coisa desse género, chego a ler, extasiado e estarrecido, «postagens» com vinte e sete comentários. Vinte e sete, Bom Deus!!! Reconheço que as que suscitam maior número de reacções são aquelas que se referem aos homens e às mulheres, aos conflitos sexuais, à inferioridade ou superioridade de uns sobre os outros. Está bem, é uma lição a reter. Poderei, em breve, escrever alguma coisa sobre o eterno desconforto entre homens e mulheres...
Mesmo uma jovem - calculo eu que o seja - que tem um blogue sobre as coisas que mais a irritam na vida, e que passa, quase sem dar por isso, de algumas ideias verdadeiramente originais para as maiores banalidades (por exemplo: «Irrita-me o ruído do giz a raspar no quadro...»), mal tem mãos a medir perante tantas respostas.
Há uma outra, cujo blogue se chama «O da Joana» e que, para além de um título feliz, tem a vantagem de ser capaz de «postar» fotografias, coisa que não me tenho interessado em aprender, ou que me interessei mas não acabei ainda de aprender. Numa série curiosa, vemos o seu jipe subindo e descendo por falésias. Pronto, é engraçado, mas...? Não é pouco...?
Às tantas, já não fixava títulos nem nomes de autor. Tudo se me confundia vertiginosamente na cabeça, como em certos sonhos em que tudo se mistura: e recordo-me de alguém que assume («corajosamente», segundo garantem vários dos comentários que recebeu) que Herberto Hélder é um autor português perfeitamente ilegível, que só por estupidez institucional o nosso país promoveu a uma espécie de Grande sacerdote da poesia. Outro João Pedro George!!!
E, no entanto, eu tenho (tive???) leitores. Um «Curioso», uma imprescindível sm, uma nymph que me explicava melhor o que a sm realmente queria dizer, uma byos que se me revelava como leitora assídua...! Mas que lhes acontecia? Cansavam-se? Iam ler antes «O da Joana», com tantas fotografias, ou o «Blogue dos Marretas», tão cheio de afirmações-choque sobre homens e sobre mulheres?
Ou acontece simplesmente que o Grande e Divino Blogue que, lá do alto, tudo vela e comanda, me destinou uma estirpe especial de leitores - os silenciosos?
Os que só reagem por engano, ou por acaso, mas nunca, nunca, NUNCA demasiadas vezes???
domingo, abril 23, 2006
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