quarta-feira, abril 19, 2006

WHY DO THEY SING IN ENGLISH?

É evidente que um aspecto, porventura o principal aspecto de qualquer consideração acerca das bandas portuguesas que cantam em inglês - os Silence 4, quando existiam, os Hands on Aproach, os Gift - não pode deixar de ser o da liberdade: o da liberdade do gosto, a liberdade de trabalhar na língua que mais prazer lhes dá («A língua inglesa fica sempre bem», canta Manuela de Azevedo, mas, essa, em português), que faz parte das suas preferências e referências estéticas e culturais, e se prende com as músicas que mais ouviam na adolescência e juventude.

É um dado adquirido. Não se discute. Não me agradaria que me tomassem, pois, por um velho do Restelo que, em nome de qualquer patriotismo pífio, viesse arengar contra o inglês como uma das possibilidades da música portuguesa. Mas como, precisamente, um tal dado me parece tão adquirido e tão indiscutível, talvez seja o momento de o discutir - ou de lembrar que há outros aspectos a tomar em conta, outros dados inteiramente por adquirir.

O primeiro é o de que, de algum modo, a escolha da língua inglesa por uma banda portuguesa, sendo um direito, nem por isso deixa de ser uma rejeição do português: quando um grupo de jovens portugueses, filhos de pais portugueses, residentes desde sempre em Portugal - muitos destes músicos, parece, em Leiria - opta por cantar em inglês, está simultaneamente a optar por não cantar em português.

Esta rejeição implícita de um instrumento cultural de comunicação, riquíssimo, aliás, sofisticadíssimo e com muitas mais possibilidades expressivas e melódicas do que o inglês, representa a negação de uma particularidade em detrimento de uma pretensa universalidade.

A universalidade do inglês, porém, é um equívoco: trata-se da pseudo-universalidade da globalização. Trata-se, mais do que isso, da escolha da via mais pobre, mais esquemática, mais uniforme; trata-se de escolher fazer o que todos fazem como todos fazem, sejam britânicos, suecos ou franceses; trata-se de escolher aquilo que é igual em todo o lado, de escolher uma identidade vaga, oca, por isso mesmo tão abrangente, que soa precisamente ao mesmo, venha de onde vier. Dir-se-ia que é como a escolha de amputar uma perna por se estar num mundo onde a maioria dos grupos rock é constituída por jovens com uma única perna.

Tal opção condu-los, ao menos, mais longe?
Torna-os mais escutados?
Permite-lhes instalarem-se como mercadoria num mercado global, «universal»?
Os seus CD passam a ser, assim, consumidos por jovens norte-americanos, canadianos, suecos, finlandeses?
Abrem-se-lhes, em suma, mais e novas portas?
Não creio.

Penso que, pelo contrário, o que ainda atrai a curiosidade de um não-português para a música portuguesa é o interesse pela sua diferença específica, pela sua singularidade cultural, pela sua própria particularidade.

Os Madredeus ou a Ala dos Namorados serão sempre mais escutados lá fora, parece-me, do que os portugueses que soam «à americana».

Mas, paternalismos à parte, deixá-los descobrirem-no por si próprios.

Sem comentários: