quinta-feira, janeiro 03, 2008

CRIME NA PASSAGEM DE ANO (II)

Observação: a pedido de várias famílias - está bem!, não várias porque este blogue não tem tantos leitores quanto isso... -, o folhetim vai sofrer alguns inesperados desvios. Não se espantem!

Por volta das vinte e três e quinze, a campaínha retiniu longamente.
Como na casa dos Arbuckle não havia propriamente mordomos, apenas uma cozinheira que, tendo deixado a ceia preparada, fora dispensada pela dona de casa para passar essa noite com a família, foi a própria esposa do Engenheiro quem se dirigiu à porta.
Porém, o toque, que, francamente, ninguém esperava, teve o condão de causar uma certa agitação entre os convivas. Mr. Arbuckle, himself, pareceu despertar do fundo de cem anos de recordações; Angel e os gémeos, Rick e Ruth, descolaram-se por um instante da televisão.
Mas foi o Engenheiro, sobretudo, que passou por uma série de metamorfoses. Aborrecimento, primeiro, porque algo o arrancava ao sumptuoso livro que o prendera; perplexidade, logo a seguir, «Ora bolas! A esta hora, quem diacho poderá ser...?», como se um sistema de engrenagens começasse a trabalhar, no seu cérebro, para solucionar um enigma particularmente difícil; por fim, uma chamazinha de felicidade incrédula perante a resposta que encontrara: Charlie! Só podia ser Charlie, seu filho! Ou se haviam arrependido, ou o rapaz tivera uma discussão com a sueca e se separara dela - esta hipótese, a verificar-se, seria ainda melhor -, ou... Em suma: Charlie viera juntar-se à família. O filho pródigo! O filho pródigo!
Algures, Lady Gloria, na confusão, partia qualquer coisa, desta vez para os lados da cozinha.

À entrada, porém, estava um homem baixo,que ninguém conseguia ainda ver para além de Mrs. Emily, que vinha de lhe abrir a porta: de fraque, com o cabelo luzidiamente negro e uns olhos verdes faiscantes, era Zorbas Castorpopoulos em pessoa!
O homem mais rico das redondezas, se não de toda a Grã-Bretanha, porventura da Europa, dignara-se parar-lhes à entrada, fosse lá pelo que fosse, com um incrível embrulho nas mãos. Não enviara um dos seus criados, não: ali estava em pessoa. A menos que fosse um sósia.
- Boa noite. Eu não queria incomodar, mas gostaria de fazer uma proposta aos donos da casa...

(CONTINUA)

Sem comentários: