- Quem fez o gato desaparecer foi o próprio senhor Castorpopoulos.
Um protesto imediato, indignado. Constrangimento. Fúria do grego. O inspector levantou uma mão, impondo silêncio, para que a mulher pudesse continuar.
Mrs. Turtle esperou que a calma se restabelecesse. Estava certa do que ia dizer.
- Mr. Castorpopoulos tinha aliciado Charles. Lembrem-se de que o senhor Zorbas, quando aqui apareceu pela primeira vez mais o seu gato, disse, entre outras coisas estranhas, que nos conhecia muito bem a todos, que nunca improvisava, que tinha feito bem o seu trabalho de casa. Ora, quem nos poderia ter-lhe descrito tão pormenorizadamente a todos nós? Charles, é claro...
Charles protestou:
- Eu, ou Mrs. Turtle, ou John, ou Lady Gloria, ou... qualquer um de nós...
- É verdade, até eu, Charlie, até eu. Mas não fui eu que estive, no dia anterior ou na tarde do próprio dia, em casa do senhor Castorpopoulos, o tal «vizinho» onde teria perdido a chave. Sejamos sérios, Charlie. Que outro vizinho poderia ser? Que vizinhos temos nós, para além do casal de velhotes, ao lado da Torre? Eu não me lembro de mais ninguém. Não te estou a acusar de conheceres o plano do senhor Castorpopoulos, filho...
- Isto é um disparate! -, regougou o grego.
- Penso até que não sabias. Penso mais: penso que, ao princípio, não havia plano algum. O que terá dado ao senhor Castorpopulos a ideia do rapto foi, provavelmente, ver aparecer-lhe simplesmente essa possibilidade diante dos olhos, sob a forma de uma providencial chave de que Charles, o seu informador, se teria esquecido em sua casa. Daí a ter congeminado um rapto que seria a solução para o seu problema, deve ter sido um passo...
- Problema? Mas que problema?! Esta mulher é doida, inspector. Exijo que me deixe sair imediatamente. Não fico nesta casa nem mais um minuto...!
- Ah, o problema. O seu problema? O problema é ter legado ao gato uma fortuna que não existe. Ainda no outro dia John me contava que o senhor joga, é perseguido por credores... Como é que o rapto o beneficiaria? O «herdeiro» está no Seguro?! Será isso? Ou...?
- Mas então não tem provas? Diz o que quer, minha senhora, insulta-me, e pronto? Não tem de demonstrar nada? Limita-se a abrir a boca e a... a...?
- Eu observei logo, por exemplo, que a gaiola estava simplesmente aberta. Não foi forçada. Porquê, não pensou nisso? Acha que a Companhia de Seguros não detectaria tal falha? Ou tratava-se de uma gaiola demasiado cara para ser estragada? E quem mais possuiria a chave da gaiola de um herdeiro tão precioso? Uma vez mais, meu senhor, o senhor é traído por uma chave. Primeiro, pela chave que usou para entrar aqui, em segundo lugar, pela chave que usou para libertar o seu gato. Libertar, realmente?! Que lhe fez, escondeu-o? Matou-o? Será que o matou???
(CONTINUA)
segunda-feira, janeiro 14, 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário