sábado, janeiro 12, 2008

CRIME NA PASSAGEM DO ANO (XIX)

Aqui apresentamos em primeira mão, fragmentária e enigmática como um texto de Heraclito, a terceira e última página escrita do caderno de Mrs. Turtle.
Infelizmente, não cremos que esta página faça uma luz definitiva sobre o caso.
Haverá, pois, um próximo episódio desta trágica narrativa.

OS APONTAMENTOS DE VIRGINIA TURTLE.
OBSERVAÇÕES E PERGUNTAS. pÁG. 3

«Fiz uma primeira investigação, que se impunha, ao andar superior.
Por estranho que pareça, o estúpido do inspector não se lembrou disso. Trabalha às três pancadas.
Bom. Tal como eu suspeitava, é possível que algum intruso tivesse andado pelos quartos. Mesas tombadas, jarras partidas, como se alguém, no escuro, caminhasse aos encontrões... ou como se tivesse havido um combate...

«As crianças estão todas acordadas, por fim. Tivemos de fazer um perímetro em torno do corpo do Eng, e tapá-lo com um lençol, enquanto se não dá a investigação por concluída.

«O janota grego propôs sair com os garotos; levá-los a passear; libertá-los deste ambiente angustiante. Espertalhão. Mas o inspector não foi na esparrela. Os meninos, alternativamente ao passeio censurado, deixaram-se estar presos pela cola da televisão.

«Mr. Arbuckle teve um ataque cardíaco. O médico regressou à pressa. O velho está melhor, mas ainda muito prostrado...

«Penso que Charles tem tentado telefonar a Björk, sem conseguir encontrá-la em parte alguma.

«Fiz uma segunda investigação, muito simples.
Pus uma questão muito simples à doida. Sem palavras a mais, nem a menos. Andei a treiná-la. Quando Charlie, que parece agora fugir-lhe constantemente (não, se calhar é impressão minha... sou tão mazinha, ele tem de estar atento a Angel, coitado...) quando Charlie não estava por ali, perguntei a Melody:
«Que mal te fez ele?»
Ao que me respondeu:
«Disse-me que eu ou era santa, ou era maluca».
«Como?!»
«Santa ou louca. E que as santas devem permanecer virgens. E que as loucas não poderão ser felizes, porque tornam os outros infelizes...»

«Tenho dado voltas à cabeça. Isto não faz sentido. A minha pergunta referia-se a Charlie, evidentemente. Mas a resposta dela não se coaduna com a história de alguém que teria tentado molestá-la. Teria sido mesmo Charlie a dizer-lhe isto...? Quando...? Ou será que não era Charlie...?

«Ou será que...?

«Não pude continuar a falar, porque o maldito inspector nos interrompeu: queria falar comigo (pela décima vez), saber por que insistia eu em «infiltrar-me» nesta família onde não era bem-vinda pelo Eng...

«Espera... espera... mas eu começo a perceber... eu sei o que se passou nessa noite...estou a ver estou a ver estou a ver calma calma para não perder a ideia de vista não-deixar-fugir nãodeixarfugirnãodeixarfugir estaideiaestaideia ES TA I DEI A»

O resto da página é irreproduzível: setas, círculos, cálculos estranhos em torno de horas...

(CONTINUA)

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