sexta-feira, janeiro 18, 2008

A SEITA - III

CAPÍTULO DEZ.

Deixemos por um momento Mefistófeles e o senhor Bota, bêbedo prestes a tornar-se um herói. Regressaremos em breve. Entretanto, vejo daqui (porque também tenho os meus poderes, é claro...) que o inominado, a sós por um instante, está de novo embrenhado na escrita.

CAPÍTULO ONZE.

«A Mamã e o Papá tiveram hoje de manhã uma discussão interminável; as discussões entre a Mamã e o Papá são muito raras porque, embora o Papá seja o líder bem-amado, o profeta, o criador que tem publicado inúmeros livros de ficção científica e ninguém duvide dos seus ensinamentos, o certo é que a Mamã é muito, muito, muito grande, muito, muito, muito pesada, com uns punhos do tamanho das minhas nádegas. A Mamã não constesta, em geral, as ideias do Papá. Mas quando alguma lhe cheira mal, por qualquer razão, ou não lhe convém, o que a Mamã faz é olhá-lo fixamente e levantar um pouco o tom de voz. Ao que o Papá, que é franzino e pequeno, retruca: «Sim, minha pombinha de Deus!» - Daí que eu tenha estranhado esta discussão...»

CAPÍTULO DOZE.

«Sucedeu por causa daquela nave que parece vigiar a quinta. Não se move. Emite um zumbido agradável, que poderia passar por música. Ou não, a partir de uma determinada altura. Emite luz, uma luz de uma cor que não sei definir, que nunca antes vi e que não consigo guardar na memória quando não estou a olhar para ela».

CAPÍTULO TREZE.

«O Papá afirma que é, sob a forma secreta de um OVNI, o carro celeste do Senhor que vem buscar os seus fiéis, e gostaria de nos preparar para sermos recolhidos por essa nave e nela acolhidos. Mas como?! Teríamos de nos libertar dos nossos invólucros mortais, como diz o Papá. Ou seja, matarmo-nos. A Mamã não aprecia a ideia - e se não fosse ela, já estaríamos talvez todos mortos. A Mamã pergunta, em altos brados, se não poderá ser antes a nave dos demónios - e cita nomes malditos, reunindo-os numa hoste hostil: Lúcifer, Satã, Mefistófeles, Zeus, Afrodite, Perséfone, Ares (que prefere o seu nome romano, Marte), Apolo, Diónisos, Eros, Thanatos, Hefesto (que também escolheu ficar, para sempre, Vulcano), as Górgonas, Odin, Thor, Frigga, Thyr, Idunna, as Valquírias de Äshgaard, Ardjuna, Brahma, Krishna, Shiva, Vixnu, os Vampiros de Sombra-Negra...»

CAPÍTULO CATORZE.

«O Papá pede à Mamã que confie nele. A Mamã está irredutível. Vou guardar esta camisola no buraco. Se puder voltar ainda hoje...»

CAPÍTULO QUINZE.

«O Papá chamou-me. Eu tinha medo. Estava em pânico. Iria matar-me?
- Tu és o Eleito. Vais ter uma missão muito importante!
Iria matar-me? Colocou-me sobre uma mesa. (Um altar de sacrifício?!) Eu não parava de tremer. Mas não chorei, mas não gritei. Injectou-me, então, uma substância azul, luminosa. Seria para que eu morresse?
- Não precisas de saber mais nada por enquanto -, disse-me. - Basta-te que tenhas noção de que és, agora, o ser mais precioso da irmandade. Mais do que a Mamã. Mais do que eu próprio.
Seria por ir morrer?»

CAPÍTULO DEZASSEIS.

«O certo é que ainda aqui estou. E vivo. Mas não me sinto bem. Não me sinto lá muito bem...»

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